Título: QUE SEJA
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 25/05/2005, Panorama Político, p. 2

Tudo indica que teremos CPI, se até a meia-noite de hoje os governistas não tiverem virado o placar que ontem continuava sendo amplamente desfavorável, mesmo com o recuo do PTB. Se instalada, dificilmente começará a funcionar neste primeiro semestre. Mas quando as luzes se acenderem, governistas e adversários estarão ajudando a desmoralizar este importante instrumento de investigação parlamentar se repetirem os erros cometidos na condução da CPI do Banestado.

Antes dessa CPI, que terminou melancolicamente com o relator e o presidente apresentando relatórios distintos e conflitantes, nenhum deles aprovado por seus pares, o Congresso já vinha desvirtuando o instrumento que já foi tão útil ao avanço dos costumes políticos. CPIs não podem terminar, como a do Banestado, deixando no ar dúvidas sobre o viés politiqueiro das conclusões ou das omissões. Não podem dar lugar a práticas como a chantagem e a intimidação. Os erros começaram com a indicação de dois políticos de forte militância partidária para os cargos de relator e presidente. Partidários todos são mas o senador Antero Paes de Barros, que a presidiu em nome do PSDB, e o deputado José Mentor, relator indicado pelo PT, são da estirpe dos cães de guarda de suas agremiações. A beligerância entre os dois acabou desmobilizando a CPI, que contava com quadros experientes em investigações parlamentares, como Pedro Simon, Sigmaringa Seixas e Sergio Miranda, postos no ostracismo pelo duelo entre os dois caciques.

A diferença é que, se instalada, a CPI dos Correios não virá num início de governo, como aquela, mas na reta inicial da disputa presidencial de 2006, o que aumenta os riscos de sua transformação em arma do confronto que já começa a ganhar suas piores formas e cores, inclusive a verborrágica. Petistas e tucanos deram-nos uma amostra da estridência que nos espera em 2006.

Enfrentar a CPI e tentar administrá-la é o plano B do governo, que muita gente acha preferível ao plano-abafa. Controlar as CPIs é um recurso legítimo dos governos, desde que isso não signifique sabotar as investigações. Na oposição, o líder da minoria, José Carlos Aleluia, em tom mais sóbrio que o dos tucanos, assegura que a oposição não indicará qualquer exaltado, desde que o PT não faça o mesmo. Mas o cuidado terá que começar pela escolha de relator e presidente. Será preciso encontrar um presidente que, mesmo tendo partido, inspire a confiança de toda a Casa. Como Jarbas Passarinho, quando escolhido para presidir a CPI do Orçamento. Ou Amir Lando para a do esquema PC. Mas a oposição no Senado já planeja impor o nome de um bloco aritmeticamente maior que o maior partido (PMDB), embora não funcione como tal.

Outro risco está no funcionamento paralelo da CPI do setor elétrico, destinada a investigar as privatizações do governo passado nesta área. Se o plano é usar uma para neutralizar a outra, aumentam as chances de tudo terminar, não em pizza, mas em self-service. Foi como acabou a do Banestado, com cada lado montando um prato com iguarias escolhidas.