Título: Carga total contra a CPI
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 25/05/2005, O País, p. 3

PTB retira assinaturas e governo joga tudo para impedir hoje criação da comissão

Os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Coordenação Política) se uniram ontem na operação para tentar evitar a criação da CPI dos Correios e conseguiram que o PTB retirasse 13 assinaturas de deputados do partido, inclusive a de Roberto Jefferson (RJ), presidente do partido, apontado em denúncias como sendo o comandante do suposto esquema de cobrança de propinas na empresa estatal. O PTB retirou o apoio à CPI e também desistiu de entregar os cargos no governo Lula.

O governo está investindo pesado na retirada de assinaturas do PT (19), do PCdoB (seis) e do PMDB (33). E espera que os aliados do PSB e do PL também voltem atrás. Na conta feita pelo Planalto, se todos os aliados aceitarem o apelo, numa operação que prometia entrar madrugada adentro, serão 101 assinaturas a menos. Mas, até ontem à noite, só os petebistas haviam recuado. O requerimento de abertura da CPI deve ser lido hoje na Câmara. A sessão está marcada para às 10h. Assinaturas poderão ser acrescentadas ou retiradas até a meia-noite de hoje.

No Senado, sete petistas ainda insistem em assinar o requerimento, mas o líder da bancada, Delcídio Amaral (MS), conseguiu adiar para hoje a reunião que seria realizada ontem à noite. Ele quer ganhar tempo para impedir novas assinatura de petistas.

`Se fui inocentado, não há por que CPI¿

A executiva do PTB voltou atrás depois de tomar conhecimento do depoimento do ex-chefe de Departamento dos Correios Maurício Marinho na Polícia Federal. No depoimento, Marinho negou a existência de um esquema de corrupção na empresa e afirmou que eram bravatas suas referências a Jefferson.

¿ O PTB retira todas as assinaturas amanhã e não há mais motivo para entregar os cargos. Se eu, o principal suspeito, fui inocentado, não há por que ter CPI ¿ disse Jefferson.

A reunião do PTB durou cerca de três horas e foi precedida de um encontro, de uma hora, entre Jefferson, Rebelo e Dirceu. Os dois ministros chegaram na casa de Jefferson às 14h e ouviram dele um desabafo. Desde a noite de segunda-feira, os dois ministros tentavam conversar com Jefferson, que não aceitou recebê-los. O encontro só ocorreu devido aos insistentes apelos, por telefone, do Japão, do ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, do PTB.

¿ Você não pode pensar só em você, tem que pensar no partido e no governo ¿ disse Mares Guia.

¿ Eles (o governo) não merecem que o PTB retire as assinaturas. Eles estão nos isolando. Eles querem colocar tudo nas nossas costas e está lá na gravação que estão negociando uma PPP entre a Gol e os Correios ¿ respondeu Jefferson.

Jefferson: governo não é solidário

O encontro entre Jefferson, Aldo e Dirceu ocorreu no início da tarde e nele os ministros ouviram um aliado amargurado com a falta de solidariedade e com o comportamento do presidente do PT, José Genoino. Aldo e Dirceu argumentaram que o PTB não era o alvo e que ele não poderia fazer o jogo da oposição. Apesar de concordar com isso, Jefferson não se comprometeu a mudar de posição e disse que tudo iria depender do que dissesse Marinho no depoimento.

¿ Vocês não são parceiros. Vocês não são corretos conosco. A relação do PTB com o PT é a do sapo e do escorpião. O PTB é o sapo e vocês só nos querem para atravessar o rio ¿ disse Jefferson, citando uma fábula.

¿ Eu sou seu parceiro ¿ retrucou Dirceu, sem responder às críticas.

¿ Você é parceiro, mas tudo que você me promete não acontece ¿ afirmou Jefferson.