Título: POLÍCIA PRENDE 80 POR FRAUDES EM CONCURSOS
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 24/05/2005, O País, p. 12

Hélio Ortiz, funcionário da Justiça Federal lotado em gabinete de deputado, é apontado como chefe do esquema

BRASÍLIA. Numa megaoperação, a Polícia Civil do Distrito Federal, com apoio da Polícia Federal, desmontou ontem e anteontem um esquema de fraude em concursos públicos em todo o país. Até o início da noite de ontem, 80 pessoas tinham sido presas em quatro estados. Foram expedidos 104 mandados de prisão no total. Entre os presos na Operação Galileu estão policiais civis e militares, candidatos que compraram gabaritos, servidores públicos aprovados de forma ilegal, professores, advogados e 15 servidores do Tribunal de Justiça Federal do Distrito Federal.

A polícia ainda não tinha prendido até o início da noite Hélio Garcia Ortiz, apontado como chefe do esquema. Ortiz é funcionário do Tribunal de Justiça do DF, mas estava lotado no gabinete do deputado federal Severiano Alves (PDT-BA).

Deputado diz que pagava Ortiz mas ele não trabalhava

O parlamentar disse ontem que, apesar de Ortiz ser seu funcionário, nunca o viu no gabinete. Severiano disse que empregou Ortiz empregou por clemência.

O deputado disse que não obrigava Ortiz a comparecer ao trabalho e pagava a ele salário de R$261. Esse valor se somava ao vencimento de Ortiz no Tribunal de Justiça. Severiano disse que o servidor teria implorado pelo cargo e que está ¿surpreso e indignado¿. Por isso, o demitiu ontem do cargo.

¿ Autorizei sua nomeação atendendo a uma situação de emergência. A esposa dele estaria com câncer e ele afirmou que tinha dificuldade de readaptação no seu emprego de origem. Nunca o vi por aqui ¿ disse Severiano Alves.

Os alvos dos fraudadores eram os concursos realizados pelo Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe), ligado à Universidade de Brasília (UnB). Segundo a Polícia Civil, foram fraudados 12 concursos realizados pelo Cespe nos últimos anos.

Fraudes eram pagas com cheques pré-datados

Anteontem, policiais com mandados judiciais prenderam dezenas de candidatos que compraram gabaritos e estavam fazendo prova para vaga de agente penitenciário federal, em Brasília. O exame foi encomendado pelo Ministério da Justiça ao Cespe. O ministério informou que vai aguardar o final das investigações para decidir se cancela ou não a prova.

Das 80 pessoas presas, 67 foram detidas no Distrito Federal, nove em Mato Grosso, três na Bahia e uma em Goiás. A Polícia Civil informou que prendeu 18 das 23 pessoas que integram o núcleo central do esquema. Entre os envolvidos, estão cinco oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal, dois agentes da Polícia Civil de Brasília e um major, Ronaldo Barbosa, secretário de Educação da cidade de Valparaíso, em Goiás.

Os candidatos pagavam os integrantes do esquema com cheques pré-datados. Cada vaga custava até 20 vezes o valor do salário oferecido para o cargo. No caso do concurso de agente penitenciário, o salário é de R$1,8 mil. Segundo a Polícia Civil, entre os presos há servidores públicos aprovados no esquema da fraude que ainda estão pagando prestações para os fraudadores.

Cespe diz que acesso a gabaritos é impossível

O Cespe divulgou nota afirmando que são freqüentes as tentativas de fraudes em concursos públicos em todo o país. A diretora-geral do órgão, Romilda Macarini, nega que funcionários estejam envolvidos no esquema, como suspeita a polícia. Segundo a nota, os procedimentos de segurança adotados pelo órgão tornam impossível o acesso ao gabarito e às provas, antes de sua aplicação.

¿A venda de supostos gabaritos e de falsas promessas de vagas garantidas é prática recorrente de pessoas inescrupulosas, que tentam, a qualquer preço, obter vantagens de forma ilícita¿, afirma a nota.

Segundo a diretora, o Cespe mantém convênio permanente com a PF para evitar fraudes na aplicação das provas.

Na ação do último domingo, a Polícia Civil utilizou 240 homens e 30 delegados em Brasília. As provas foram realizadas em vários colégios da capital federal. O trânsito ficou interditado por cerca de duas horas nas imediações das escolas. Alguns dos candidatos foram presos quando deixavam a sala de aula. Eles acabavam a prova rapidamente por terem tido acesso ao gabarito com antecedência.

Os envolvidos apontados como líderes da quadrilha que fraudou o concurso foram presos em clubes da cidade e em suas casas. A polícia não encontrou Hélio Ortiz em sua mansão no bairro nobre Park Way.