Título: EFEITO DÓLAR NOS SUPERMERCADOS
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 24/05/2005, Economia, p. 21

Preços de produtos como óleo de soja, arroz, azeite e bebidas recuam até 26,9%

Os efeitos da queda do dólar ¿ que já acumula redução de 8,55% no ano ¿ chegaram ao varejo. Produtos como óleo de soja, arroz, azeites, azeitonas e bacalhau, além de bebidas, que começam a ser negociados com base num câmbio mais favorável pelos supermercados, estão sendo vendidos para o consumidor com preços até 26,9% mais baixos. Uma boa notícia que, segundo analistas, será sentida mais intensamente em junho, quando os índices de inflação vão começar a refletir essa redução.

No Prezunic, 24 artigos estão mais em conta esta semana. O preço do arroz agulhinha, da Coparroz, que vem do Uruguai, por exemplo, caiu 26,9%: de R$8,90 para R$6,50. Já a azeitona verde, da Argentina, passou a ser vendida a R$7,95, o quilo ¿ uma redução de quase 7%. E pelo fato de a soja ser negociada no mercado internacional (sendo assim influenciada pelo dólar mais barato), o óleo de soja Liza recuou de R$2,65 para R$2,35.

¿ Como compramos à vista, a rede se beneficia do câmbio do dia, que está em queda. A média de redução varia entre 5% e 15% ¿ explica Genival de Souza, diretor do Prezunic, que tem 15 lojas no Rio.

Economistas prevêem inflação menor em junho e julho

A Rede Economia/Princesa, por sua vez, repetiu a estratégia em produtos como o azeite português Vila Nova, que sai por R$12,90 ¿ contra R$14,90 cobrados há cerca de 15 dias. Ainda sem revelar que artigos terão queda, o Carrefour garante que vai repassar toda a economia feita em suas novas negociações com dólar mais barato. Já o Grupo Pão de Açúcar ¿ que inclui Sendas, Extra e ABC Barateiro ¿ devido a compras feitas anteriormente, não tem previsão de redução de preços associados ao dólar.

Segundo João Márcio Castro, diretor da Rede Economia/Princesa, as perspectivas são melhores para os próximos meses. Entram na lista de preços mais em conta da rede artigos como massas e geléias:

¿ E, como já vamos negociar com um dólar baixo, teremos este ano um bacalhau de 10% a 20% mais barato do que o do último Natal.

Na rede Lidador, os primeiros produtos a sentir a queda do dólar foram os vinhos. As marcas chilenas saem a partir de R$13,70, e as argentinas, a partir de R$11,90 ¿ nos dois casos, a queda é da ordem de 15%.

¿ Nas compras fechadas em euro, nada mudou. Com a cotação do euro mais alta que a do dólar, os preços da maioria dos vinhos europeus não são os mais atrativos ¿ disse Joaquim Cabral, lembrando que, como ainda há estoque de alimentos, não há como reduzir outros preços.

Analistas lembram, no entanto, que a boa notícia vem com uma ressalva: os produtos não caem necessariamente no mesmo ritmo de queda da moeda americana.

¿ Na formação dos preços, há outros componentes, como tarifa de energia, distribuição, combustível. Isso explica, por exemplo, o fato de o pão francês não recuar por conta do dólar, que interfere no preço do trigo ¿ disse João Carlos de Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

A redução de preços pode levar a aposentada Gilda de Oliveira Bohrer a voltar a consumir produtos importados. É que, para controlar seus gastos, de R$150 por semana, ela eliminou do seu cardápio artigos como massas, queijos e bacalhau.

¿ Tudo está muito caro. Agora que o dólar baixou, o consumidor aguarda repasses menos tímidos.

Além da valorização do real, João Gomes, economista do Instituto Fecomércio-RJ, lembra que a desaceleração da cotação de commodities no exterior favorece a queda de preços.

¿ Os índices de preços ao consumidor já estão sentindo as variações cambiais, mas vão sentir de forma ainda mais intensa em junho. Assim, os preços de soja, milho, açúcar, arroz, café, trigo e seus derivados vão cair e dar uma folga ao bolso do consumidor ¿ diz Gomes, lembrando que a recuperação, ainda que modesta, da renda dos trabalhadores colabora para um cenário mais positivo no segundo semestre.

Para Luiz Roberto Cunha, economista da PUC-Rio, os efeitos do câmbio, aliados ao fim do choque agrícola, ficarão mais claros em julho no IPCA ¿ índice de inflação usado no sistema de metas do governo.

¿ O IPCA-15 de junho ainda vem alto, na faixa dos 0,90%, e o IPCA fechado ficará em 0,60%. Já o IPCA de julho pode ser de 0,40%.

Vendas de carros importados crescem 30% no acumulado do ano

Dólar não é o único fator que, no momento, pode contribuir para a queda de preços, acrescenta o economista Marco Antônio Franklin, da Plenus Gestão de Recursos:

¿ Se não houvesse o vizinho ao lado, a concorrência, o efeito do dólar seria menor.

A valorização da moeda nacional trouxe benefícios a outros setores. É o que se percebe na venda de veículos importados no varejo: em abril, totalizaram 400 unidades ¿ 39,9% mais que no mesmo mês de 2004, diz a Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva). Na comparação com março, houve declínio de 11,5%. Mas no acumulado de 2005, as vendas somaram 1.514 veículos, resultado 30,4% maior do que o de igual período do ano anterior.