Título: BRASIL QUER US$4 BI EM INVESTIMENTOS COREANOS
Autor: Gilberto Scofield
Fonte: O Globo, 24/05/2005, Economia, p. 23

Governo pretende ampliar presença do país na Ásia. Vale fechará acordo de US$1 bilhão com siderúrgica Posco

SEUL. A equipe de cerca de 20 brasileiros e sul-coreanos corre para lá e para cá no amplo salão de conferências do Hotel Lotte, no coração de Seul, na Coréia do Sul, onde está hospedado o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente chegou ontem à noite à capital sul-coreana e inicia hoje um périplo de cinco dias por Coréia e Japão, numa nova tentativa do governo petista de ampliar a presença brasileira na Ásia, depois da bem-sucedida viagem de Lula à China, em maio do ano passado.

De um lado, sob a batuta do Itamaraty e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, cerca de 20 mesas-redondas servirão de palco, hoje, para as assinaturas de contratos entre empresas e instituições coreanas e brasileiras, que podem resultar em US$4 bilhões em investimentos.

No outro lado, parcialmente escondido por um biombo coreano, um piano de cauda preto quebra a monotonia do palco, onde se vê escrito: ¿Carnival Trilogy¿. É que o coquetel, que ocorrerá ao fim do dia, terá como fundo musical a mistura do piano do brasileiro Marcelo Bratke com o batuque de um grupo de percussão.

Novo projeto siderúrgico da Vale será no Maranhão

O show será oferecido pela Vale do Rio Doce, a empresa brasileira que, assim como na China, será a principal personagem da viagem presidencial aos dois países asiáticos. O carnaval, novamente, é da companhia mineradora.

Hoje, a empresa fecha com a siderúrgica coreana Posco, a terceira maior da Ásia, um estudo de viabilidade para a instalação de uma siderúrgica com capacidade de produção de até 7,5 milhões de toneladas de aço por ano, próxima ao Porto de Itaqui, no Maranhão. Investimento previsto: US$1 bilhão.

BB, BNDES e Eletrobrás vão assinar acordos

Mas o que poderia ser apenas outro investimento de uma megassiderúrgica no Brasil ¿ o outro ocorreu ano passado com a parceria da Vale com a chinesa Baosteel, também no estado do Maranhão ¿ é, na verdade, parte de uma ambiciosa estratégia da mineradora de criar um complexo siderúrgico que sirva como escoadouro natural do ferro extraído nas minas da empresa em Carajás, no Pará.

¿ A região possui todas as qualidades para hospedar várias empresas, e a Vale está conversando não apenas com a Posco, mas também com a Arcelor e a Nippon, tentando criar um centro produtor numa região que recebe o minério de Carajás diretamente e possui as facilidades geográficas de exportação do Nordeste ¿ revela um executivo da Vale do Rio Doce que integra a comitiva do presidente da mineradora, Roger Agnelli.

A festa empresarial que começa hoje em Seul ¿ e que incluirá ainda a assinatura de protocolos de entendimento entre o Banco do Brasil e o Korea Exchange Bank, entre a Eletrobrás e a Korea Electric Power Corporation (Kepco) e entre o BNDES e o Korea Eximbank ¿ é um ¿carnival¿ siderúrgico da Vale do Rio Doce.