Título: LISTA VAI IDENTIFICAR REAIS ALIADOS
Autor: Adriana Vasconcelos, Maria Lima e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 26/05/2005, O País, p. 3
Líderes insistiram na retirada de assinaturas para tentar unir a base
BRASÍLIA. Mesmo sabendo que seria muito difícil retirar as assinaturas de aliados do requerimento que cria a CPI dos Correios, os líderes do governo trabalharam esta alternativa até o último momento. Eles insistiram nessa proposta com o objetivo também de unir a base aliada, buscando sua coesão para superar a atuação dispersa no Congresso. A partir desse esforço, com a lista em mãos, o governo pretende identificar quem são seus reais aliados e ficar com crédito junto àqueles que assinaram a criação da CPI e não atenderam aos apelos dos líderes.
Dirceu: ¿Quem não está conosco está contra nós¿
Essa estratégia foi detalhada nas reuniões que vararam a madrugada e se estenderam ao longo do dia de ontem. Na reunião do Campo Majoritário num hotel de Brasília, na noite de terça-feira, o ministro José Dirceu foi contundente em relação a prováveis retaliações que seriam feitas contra os aliados que não retirassem as assinaturas.
¿ Quem não está conosco, está contra nós. Estão investindo, junto com a oposição, na desestabilização do governo Lula ¿ disse Dirceu, segundo relato dos presentes.
¿ Estamos fazendo um esforço para forjar a musculatura da base, costurando uma unidade que não existia e revertendo o esfacelamento da base, pois para enfrentar a CPI é preciso coesão ¿ disse um ministro.
Para evitar a CPI, o governo Lula vai obstruir seu funcionamento e adotar a mesma tática usada pelo governo Fernando Henrique, que em 1997 impediu que se instalasse a CPI dos Bancos proposta pelo então presidente do PPB, Esperidião Amin. A CPI dos Correios somente poderá funcionar depois que for eleito o seu presidente e para isso será preciso que a maioria dos 32 membros da comissão participem desta escolha. Para evitar que isso ocorra, os líderes aliados foram orientados, na noite de terça-feira, numa reunião na casa do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, a não darem quórum aos trabalhos da comissão.
¿ É isso que vamos fazer em última instância ¿ confirmou um dos líderes que participaram da reunião.
O governo vai usar o artigo 108 do regimento interno, pelo qual ¿As comissões reunir-se-ão com a presença, no mínimo, da maioria de seus membros¿. A avaliação do governo é que a oposição terá no máximo 12 representantes entre os 32 membros da CPI, sendo que o quórum para eleger o presidente, viabilizando o funcionamento da comissão, é de 17 integrantes.
Governo quer ganhar tempo para Polícia Federal investigar
Uma outra ação importante da tática governista é a de protelar a instalação da CPI na expectativa de que o trabalho de investigação da Polícia Federal avance, reduzindo o custo político da obstrução na comissão. Foi com este objetivo que o vice-líder do governo no Congresso, deputado João Leão (PP-BA), apresentou recurso à Comissão de Constituição e Justiça, alegando que a CPI não tinha fato determinado, como prevê a Constituição.
Para ganhar tempo enquanto a polícia investiga, os líderes governistas não terão pressa para indicar seus representantes na CPI. O prazo para que todos os partidos façam isso é de 30 dias.
COLABOROU Maria Lima