Título: Governo e oposição trocam ataques, antecipando o clima eleitoral da CPI
Autor: Adriana Vasconcelos e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 26/05/2005, O País, p. 4

`Será o peru bêbado contra o pavão vaidoso¿, diz deputado petista

BRASÍLIA. A sessão de ontem de manhã do Congresso foi uma mostra do clima eleitoral que deverá reger os trabalhos da CPI dos Correios. Apesar da firmeza com que o presidente Renan Calheiros (PMDB-AL) conduziu os trabalhos, oposição e governo partiram para ataques mútuos e transformaram a tribuna em palanque, com direito até a cartazes. A exemplo do que os petistas costumavam fazer em seus tempos de oposição, os tucanos exibiram a foto do presidente do PT, José Genoino, e do ex-líder do governo Lula Miro Teixeira (PT-RJ) apoiando um cartaz em que se lia: ¿Roupa suja se lava em CPI¿. Ao lado da ilustração, a ironia: "PT ¿ Quem te viu e quem te vê."

¿ Isso é pior do que fazíamos no passado. Está aí o palanque eleitoral! Isso é ofensivo, senhor presidente ¿ protestou, aos berros, o deputado Henrique Fontana (PT-RS).

Tucano rebate críticas durante discurso

O líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), aproveitou o discurso que fazia para responder às críticas:

¿ O PT não tem moral para nos cobrar absolutamente nada. Não queremos a CPI da corrupção que eles quiseram quando tentavam desestabilizar o governo Fernando Henrique nas ruas com os braços armados e desarmados: MST e CUT. Não vamos pôr em risco a governabilidade e a democracia. Se preciso, vamos gritar nas ruas: `Fica Lula!¿ Para vencermos nas urnas. À vitória, companheiros!

Diante da tensão do plenário, Renan surpreendeu especialmente os representantes da base. Primeiro, ao rejeitar um recurso apresentado pelo deputado João Leão (PL-BA), que pedia o arquivamento do requerimento da CPI, sob a alegação de que não havia fato determinado para a investigação. Chegou a ser ríspido com a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), que tentava defender a proposta de Leão, mesmo depois de a Mesa tê-la rejeitado.

¿ Vossa Excelência não interrompa a Mesa. Não vai trazer mais nada. Esta questão já foi decidida ¿ avisou Renan.

Irritado com excessos e destemperos de ambos os lados, Renan, contrariando o discurso dos governistas, disse que a CPI não levará o país a uma crise institucional nem à paralisia do Legislativo.

¿ Estamos muito mais próximos de uma crise institucional maquinada na retórica do que de uma crise de fato. Todas as instituições estão sólidas e funcionando normalmente, com independência ¿ disse Renan. ¿ Já atravessamos turbilhões piores e o país caminhou. Já houve CPIs com apurações mais complexas e, nem por isso, o Brasil parou. CPI é um instrumento da minoria. À maioria cabe explicitar sua maioria, também democraticamente. Como presidente do Senado saberei respeitar a imparcialidade e zelar pela convivência democrática entre os Poderes. Também como presidente do Senado não vou paralisar nossa agenda ou permitir passivamente que ela seja poluída ¿ discursou.

Deputados do PT receberam apelos para desistir de CPI

Em meio a essa guerra, deputados do PT que haviam assinado o requerimento da CPI recebiam, no plenário, telefonemas de Genoino, que prosseguia na operação para impedir a criação da comissão.

¿ Melhor seria desdramatizar a CPI. Essa posição do governo é que está dando palanque para a oposição ¿ reagiu o deputado Chico Alencar (PT-RJ), logo depois de ouvir mais um apelo de Genoino.

¿ Depois do circo que eu vi no plenário, não tem CPI dos Correios, tem CPI anti-Lula. E agora é guerra! Como dizem que somos o peru bêbado, será o peru bêbado contra o pavão vaidoso. A campanha já começou ¿ retrucou o deputado Carlito Merss (PT-SC).

No fundo do plenário, deliciando-se com o embate entre governo e oposição, o ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge Caldas Pereira, que foi um dos principais alvos do PT durante o governo Fernando Henrique. Com quem conversava, dizia que não comprovaram qualquer irregularidade envolvendo seu nome.