Título: LULA 'VENDE' BRASIL NA CORÉIA
Autor: Cristiane Jungblut e Gilberto Scofield
Fonte: O Globo, 25/05/2005, Economia, p. 25

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a platéia de empresários sul-coreanos para tentar incentivar negócios entre os dois países e atrair recursos, principalmente por meio das Parcerias Público-Privadas (PPPs). Lula, que falou no encerramento do seminário "Brasil e Coréia: Oportunidade de Comércio e Investimentos", lembrou que a Coréia já investe no Brasil em setores como automotivo e eletrônico e que é possível fortalecer parcerias em energia e mineração. O presidente defendeu o etanol como combustível do futuro para a Coréia. Ontem foram assinados sete contratos e memorandos entre empresas brasileiras e coreanas.

- Coréia e Brasil têm credenciais e competência para ocupar espaço cada vez maior na economia mundial, sobretudo se souberem somar seus esforços. O Brasil representa, seguramente, uma enorme oportunidade de investimentos para os capitais coreanos. As PPPs representam uma alternativa inovadora para atrair capital privado. Convidamos empresários coreanos a realizarem investimento direto no Brasil, inclusive mediante joint-ventures (associações) - disse Lula. - A assinatura dos acordos e dos protocolos apenas demonstram o quanto poderemos avançar se tivermos ousadia e projeto de desenvolvimento comum. Um projeto em especial ilustra todo esse potencial de nossas relações. É o caso do etanol como aditivo à gasolina.

O ministro do Comércio Exterior da Coréia do Sul, Hyun Chong Kim, informou ao ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, que uma missão técnica coreana desembarca no Brasil ainda este ano para visitar a cadeia de produção e exportação de etanol do país. A cooperação nessa área começou ano passado, com a visita do presidente coreano, Roh Moo-hyun, ao Brasil.

Acordo Coréia do Sul-Mercosul à vista

Lula acrescentou que o Brasil é um ambiente seguro para investimentos e pediu ousadia do parceiro asiático para que os dois países desenvolvam projetos comuns. Lula apresentou uma visão otimista da economia nacional, apesar da preocupação interna com a turbulência política. Ele lembrou que as medidas adotadas nos dois primeiros anos de mandato geraram sacrifícios inicialmente, mas que agora a economia vive um momento especial, "fruto de nossa vontade".

O presidente apresentou como objetivo manter nos próximos anos o ritmo de crescimento de 5,2% verificado em 2004, apesar de as previsões serem de que este ano e em 2006 a economia não deverá repetir o desempenho.

O ministro Furlan disse que o governo sul-coreano mostrou interesse em iniciar conversações para um acordo de preferência tarifária entre a Coréia do Sul e o Mercosul, o que seria um primeiro passo para uma associação de livre comércio.

Empresas brasileiras e sul-coreanas assinaram ontem sete contratos de negócios que, se efetivados, vão representar um investimento de US$4 bilhões na economia brasileira a longo prazo. Os maiores projetos são o estudo de viabilidade para a criação de uma joint-venture entre a Vale do Rio Doce e a terceira maior siderúrgica do mundo, a coreana Posco, para a produção de 7,5 milhões de toneladas de aço no Maranhão; o investimento de US$1,5 bilhão da empresa de energia coreana Kepco em sete projetos no Brasil, em parceria com a Eletrobrás; e um acordo entre a Vale, a Dongkuk Steel e o governo do Ceará para instalar no estado uma siderúrgica.

Mas o maior desafio da missão brasileira é dobrar a tradicional resistência coreana à entrada de produtos agrícolas. A Coréia do Sul é constante aliada de União Européia, Japão e Suíça contra a liberalização do comércio internacional de produtos agrícolas. Furlan disse que o país autorizou em março a importação de frango congelado do Brasil, mas os embarques não começaram.

Governo estuda mais 'bondades'

O governo brasileiro acenou com a ampliação das PPPs, incentivos fiscais às exportações que constarão da "MP do Bem" e até os financiamentos do BNDES, como forma de atrair capitais produtivos para o Brasil. Ontem, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, por exemplo, adiantou que o governo já estuda medidas complementares ao pacote tributário: uma "MP do Bem 2", com redução do patamar de exportações que permita isenção fiscal. Furlan disse que o IPI sobre alguns setores pode cair.

O texto da chamada "MP do Bem" está sendo fechado e tem como principal item a isenção de PIS e Cofins, por cinco anos, para novos investimentos industriais nacionais e estrangeiros no Brasil que serviam como plataforma de exportação. Ou seja, empreendimento que destina pelo menos 80% da produção à venda externa. Os empresários, que receberam com entusiasmo o pacote, reclamaram apenas do percentual. Palocci falou ontem para cerca de 150 empresários brasileiros e sul-coreanos reunidos no seminário sobre oportunidades de negócios no Brasil.

Outra novidade, segundo Palocci, é a volta do BNDES ao financiamento dos chamados project finance, interrompidos há cerca de dois anos. Esses investimentos usam como garantia o próprio projeto na hora de obter dinheiro dos bancos.

Palocci negou que as altas de juros possam afetar o crescimento da economia, mas disse ser preferível um ritmo menor com inflação baixa do que uma expansão maior com forte variação de preços.

- É melhor crescer um pouco menos com menos inflação. Um pouco mais de inflação não é vantagem. Acho que temos hoje um compromisso fiscal adequado e a inflação sob controle. A maior prova de que os investidores estão vendo isso é que o volume dos investimentos estrangeiros diretos no Brasil no primeiro quadrimestre é 30% maior que o registrado no mesmo período do ano passado - disse Palocci, que defendeu ainda um "choque de gestão" na Previdência Social.