Título: GOVERNO CAPTA US$500 MILHÕES. DÓLAR CAI E ENCOSTA EM R$2,40
Autor: Martha Beck e Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 26/05/2005, Economia, p. 24

Com a emissão, governo completa 90% do cronograma para este ano

BRASÍLIA e RIO. O governo aproveitou a forte demanda de investidores por títulos brasileiros e relançou ontem no mercado internacional títulos com vencimento em 2034 (o Global 2034), no valor de US$500 milhões. A procura chegou a US$2,5 bilhões. Os papéis têm uma taxa de retorno de 8,814% ao ano para os investidores, uma remuneração 4,4% acima do retorno de um título do Tesouro dos EUA com prazo similar.

O papel foi emitido pela primeira vez em janeiro de 2004. Segundo o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, José Antônio Gragnani, a decisão de voltar a vendê-lo ocorreu porque há forte demanda por papéis de prazos mais longos.

Dólar chegou a ser negociado a R$2,404

A nova captação do governo fez o dólar recuar ontem para a menor cotação do ano: R$2,410, uma queda de 0,78% ¿ o menor patamar desde 3 de maio de 2002 (R$2,408). Na mínima, a moeda chegou a valer R$2,404. Os recursos captados pelo governo não passam pelo mercado de câmbio: vão engordar as reservas internacionais e são usados apenas no pagamento da dívida externa do governo. No entanto, a demanda dos investidores por papéis de uma economia emergente deve acelerar emissões de títulos de empresas, segundo analistas. E estes recursos, ao ingressarem no mercado de câmbio, podem fazer o dólar cair ainda mais.

¿ O fato de o governo ter conseguido vender papéis de longuíssimo prazo com uma taxa considerada baixa confirma o grande apetite dos estrangeiros pelos ativos brasileiros. Por isso, as empresas devem aproveitar essa demanda para se financiar no exterior. Basta observar a trajetória dos títulos da dívida para confirmar o sucesso dos papéis brasileiros ¿ diz Felipe Brandão, diretor de Mercados Emergentes da corretora inglesa Garban/Icap.

A operação de ontem valeu a pena. Devido à demanda elevada ¿ prova da confiança do investidor estrangeiro na economia brasileira apesar dos recentes ruídos políticos ¿ o governo vai pagar aos investidores uma taxa anual de 8,814% pelos papéis. Na última emissão, de títulos com vencimento em 2019 (portanto, 15 anos a menos que os de ontem), feita há duas semanas, o governo pagou 8,83% ao ano. Normalmente, quanto maior o prazo, maior é a taxa paga.

Para José Roberto Carreira, gerente de câmbio da corretora Novação, a nova captação vai ajudar a empurrar a cotação do dólar para menos de R$2,40:

¿ Se o Banco Central (BC) não retomar as compras de moeda, é nessa direção que o mercado de câmbio caminha.

Ontem, a emissão fez o risco-Brasil recuar 2,76%, para 422 pontos centesimais. O Global 40, título mais negociado da dívida externa brasileira, subiu 0,60%, cotado a 117,55% do valor de face. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) caiu 0,27%, acompanhando Dow (-0,44%) e Nasdaq (-0,56%), nos EUA.

A emissão de ontem foi liderada pelos bancos Deutsche Bank e Bear Stearns, que venderam o título a 94,125% de seu valor de face. Com a operação, o governo já cumpriu 90% do cronograma de emissões de 2005, de US$6 bilhões. Agora só resta captar mais US$600 milhões.

A dívida externa do Tesouro Nacional tem hoje um estoque de R$192,182 bilhões. Para administrá-la este ano, o Tesouro quer ampliar o número de investidores e controlar o passivo por meio de novas emissões e operações de troca de papéis. Segundo o órgão, o número médio de investidores que participam das emissões cresceu mais de 400% frente a 2002.