Título: ALTA DA SELIC JÁ SE REFLETE NOS JUROS BANCÁRIOS
Autor: Enio Vieira
Fonte: O Globo, 26/05/2005, Economia, p. 25

Taxas atingem em abril o maior nível desde outubro de 2003. Crédito consignado é exceção: cai pelo quinto mês

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Os juros bancários cobrados de consumidores e empresas subiram em abril e atingiram o maior nível desde outubro de 2003. Essa alta reflete as elevações que o Banco Central (BC) vem realizando na Taxa Selic, desde setembro passado, para baixar a inflação. O juro médio passou de 47,8%, em março, para 48,4% ao ano no mês passado. No crédito à pessoa física, o custo passou de 64% para 64,5% ao ano e só tem crescido em ritmo lento graças aos empréstimos com desconto em folha.

A taxa média do crédito consignado recuou pelo quinto mês consecutivo, de 37,1% para 36,5% ao ano, em abril. Isso representa metade do custo do Crédito Direto ao Consumidor (CDC), que no mesmo período passou de 74,4% para 75% ao ano. Mas a alta da Selic teve maior impacto no cheque especial, cuja taxa média saltou de 146,1% para 147,6% ao ano, o maior patamar desde os 152,2% de setembro de 2003.

Empréstimo consignado avança entre aposentados

Já os juros para compra de carros oscilaram pouco, passando de 36,7% para 37% ao ano em abril. No segmento de crédito para aquisição de bens, houve queda: de 62,4% para 57,7% ao ano.

¿ Neste caso, um banco comprou a carteira de uma loja e aumentou o peso de suas operações nas estatísticas. Mas o volume de crédito continua aumentando com a consignação, principalmente entre os aposentados do INSS ¿ disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Segundo o Ministério da Previdência, os aposentados tinham acumulado em março um total de R$4,871 bilhões no empréstimo consignado. Em abril, eram R$5,791 bilhões, considerado apenas o volume de liberação, excluindo pagamento de parcelas e juros sobre o saldo devedor.

Pelos dados do BC, que incluem o estoque já calculando as quitações e juros, o total de crédito consignado cresceu de R$15,509 bilhões para R$16,549 bilhões em abril. Foi uma alta de 110,9% nos últimos 12 meses, quatro vezes o crescimento médio de 24,9% do crédito com recursos livres.

O consultor Miguel Ribeiro de Oliveira, da Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac), disse que, devido ao crédito consignado e ao aumento dos prazos oferecidos pelas lojas, a alta dos juros pelo BC tem pouco efeito no volume de empréstimos concedidos, anulando os esforços do BC de segurar o consumo.

Não é à toa que o volume de financiamentos cresceu. O total de crédito com recursos livres (exceto habitação, rural, microcrédito e operações do BNDES) subiu de R$291,1 bilhões para R$299,6 bilhões em abril. O volume de empréstimos para pessoa física foi de R$125,5 bilhões para R$129,9 bilhões e, para empresas, de R$165,5 bilhões para R$169,7 bilhões.

A taxa média para empresas aumentou de 32,9% para 33,3% ao ano em abril. Segundo Altamir, as pessoas jurídicas vêm buscando mais empréstimos no mercado interno e reduzindo suas operações no exterior. Oliveira lembrou que houve aumento no spread (diferença entre o custo de captação do banco e o quanto ele cobra para emprestar), de 28,8% para 29% ao ano.

Febraban: o custo do dinheiro vem subindo

Em nota, o economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Roberto Luis Troster, justificou essa alta: ¿O custo do dinheiro para recursos livres vem subindo mês a mês. A Selic, desde setembro do ano passado, subiu 3,75 pontos percentuais. E o repasse às linhas de empréstimo e financiamento foi menor¿.

A última pesquisa do Procon de São Paulo já havia mostrado aumento dos juros em abril. Nas operações de empréstimo pessoal, as taxas passaram de 5,34% para 5,37% ao mês. Já no cheque especial, foram de 8,19% para 8,24%.

COLABOROU Aguinaldo Novo