Título: ETA DETONA CARRO-BOMBA EM MADRI E FERE 52
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Fonte: O Globo, 26/05/2005, O Mundo, p. 29
Atentado é considerado rejeição a proposta de paz do governo. Oposição pede mais rigor contra separatistas
MADRI. Numa clara rejeição a uma proposta de paz do governo espanhol, o grupo separatista basco ETA detonou ontem um carro-bomba em Madri, ferindo pelo menos 52 pessoas. A violenta explosão destruiu ou danificou aproximadamente dez carros, quebrou janelas de vidro de cerca de 20 prédios próximos e levantou uma nuvem de fumaça preta vista a quilômetros de distância. Cinco feridos foram levados para um hospital.
O atentado foi considerado uma resposta dos separatistas a uma decisão do Parlamento, aprovada oito dias antes de permitir ao governo negociar a paz com o grupo desde que este deponha as armas. Indicou um recrudescimento do terrorismo do ETA, que nos últimos dez dias detonou seis bombas dirigidas contra empresas e empresários em localidades bascas. O grupo não agia na capital, porém, desde fevereiro, quando feriram 42 pessoas num atentado.
Vítimas tiveram lesão no tímpano e crise nervosa
Eram 9h30m (hora local) quando o ETA detonou uma bomba de 18 a 20 quilos que estava numa mochila dentro de uma van roubada. A explosão aconteceu numa zona comercial e residencial do bairro de San Blas, 45 minutos depois de o jornal basco ¿Gara¿ receber por telefone uma aviso sobre o atentado, como o grupo costuma fazer. A advertência permitiu à polícia isolar a área, mas dezenas de pessoas foram feridas por pedaços de vidro que voaram com a força da explosão. Muitas foram atendidas no local, algumas com lesão no tímpano e crise nervosa.
¿ O único destino do grupo terrorista ETA é desistir das armas e se desfazer ¿ disse no Senado o presidente do governo da Espanha, José Luiz Zapatero.
Já o ministro do Interior, José Antonio Alonso, declarou:
¿ A organização terrorista ETA continua viva, ativa e operante, e a estamos combatendo com toda a nossa determinação.
Líderes do Partido Popular (PP), de oposição, acusaram o governo socialista de fazer concessões ao ETA. Pio Garcia Escudero, porta-voz do PP no Senado, disse que o ataque mostrou que o grupo não quer negociar a paz. Outro porta-voz do partido no Parlamento, Eduardo Zaplana, exigiu que o governo reveja a política contra o terrorismo e o combata com firmeza, em vez de oferecer negociações.
¿ Dar balões de oxigênio e apelos ao diálogo é um grande erro ¿ disse ele. ¿ Os terroristas só querem matar, assassinar, semear o terror, e a única coisa que o estado de direito e a democracia podem fazer é combatê-los com todas as suas forças.
O PP foi o único partido que votou contra a proposta de paz do governo aprovada no Parlamento semana passada.
O atentado de ontem aconteceu dois dias depois de a polícia francesa prender três acusados de integrar o grupo separatista. Horas depois da explosão, a Audiência Nacional pediu a detenção internacional de Jon Salaberría, ex-deputado do Batasuna ¿ formação política ilegal que representa o ETA ¿ por ele ter deixado de comparecer ontem a um tribunal para responder a acusações de terrorismo. Já Arnaldo Otegi, outro ex-parlamentar do Batasuna convocado a depor, foi ao tribunal. Ele negou envolvimento com o aparato financeiro do grupo separatista.
Em sua campanha para criar um país basco que abrangesse o norte da Espanha e o sudoeste da França, o ETA já matou quase 850 pessoas ¿ em atentados a bomba e assassinatos a tiros ¿ desde 1968. Nos últimos anos, centenas de integrantes do grupo foram presos.