Título: Apoio de rebeldes à CPI abre nova crise no PT; cúpula promete punição
Autor: Maria Lima eLuiza Damé
Fonte: O Globo, 27/05/2005, O País, p. 4

"Eles preferiram aliança com PSDB e PFL e optaram por ruptura", diz Genoino

BRASÍLIA. O apoio de um senador e 14 deputados petistas à criação da CPI dos Correios provocou a ira dos demais partidos aliados, uma grave derrota para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas, principalmente, uma enorme crise interna no PT. Os dirigentes do partido avisam que a nova rebelião da esquerda petista foi a gota d¿água e que agora os parlamentares serão submetidos ao crivo das bancadas da Câmara e do Senado. Decepcionado, o presidente nacional do PT, José Genoino, disse que conversou com um por um, fazendo apelos dramáticos e alertando que suas assinaturas seriam decisivas para a CPI.

¿ Esses que mantiveram as assinaturas romperam unilateralmente a relação de confiança com o partido e o governo. Preferiram a aliança com o PSDB e o PFL, que travam uma guerra política, um enfrentamento para enfraquecer o nosso governo. Eles fizeram a opção pela ruptura ¿ disse Genoino.

Ainda de madrugada, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), explodiu toda sua irritação com o PT, ao qual debitou a culpa pelo vexame imposto ao governo pela derrota. Lembrando a perda da eleição para a presidência da Câmara, ele disse que mais uma vez o PT derrotou o governo e que isso será um divisor de águas no partido.

¿ Não nos caracterizamos por ser um partido onde cada um faz o que quer. A decisão de não retirar as assinaturas foi um divisor de águas. É muito lamentável que novamente o PT tenha derrotado o governo ¿ desabafou Chinaglia.

Na véspera do prazo final ¿ quando foram reunidos todos os líderes da base na casa do ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo ¿ o ministro da Casa Civil, José Dirceu, já avisava que, para a manobra do governo dar certo, era preciso conseguir reduzir as 19 assinaturas do PT e as 39 do PMDB a cinco em cada partido. Nem o PT nem o PMDB aceitaram retirar os nomes: os apelos sensibilizaram apenas cinco petistas e nenhum peemedebistas.

Genoino disse que tentou tudo o que pôde para convencer seus correligionários a retirar o apoio, e que agora caberá às respectivas bancadas avaliar o que vai ser feito para enquadrá-los. Mesmo porque, disse, os rebeldes teriam concordado com a resolução do diretório nacional, aprovada no fim de semana passado, contra a CPI.

¿ Meu sentimento é de profunda tristeza. Sempre apostamos no diálogo e recebemos um troco que o partido e o governo não mereciam ¿ disse ele.

Chico Alencar diz que não teme possível punição

Um dos 15 petistas que apoiaram a CPI dos Correios, o deputado Chico Alencar (RJ) condenou a ameaça de punir os que não retiraram a assinatura. O deputado disse não temer a punição.

¿ Não somos obrigados a ter um comportamento contraditório ao que aprendemos a ter no PT por causa do Roberto Jefferson e do PTB ¿ disse Chico Alencar.

Um dos líderes do movimento de esquerda do PT, o deputado Ivan Valente (SP), disse ontem que a direção do partido não mostrou segurança sobre as discussões a respeito da instalação da CPI:

¿ Enquanto a ala governista quer ampliar a base parlamentar, com sério risco na fronteira da ética, nós (da esquerda) entendemos que a ampliação deve se dar dentro dos critérios programáticos e com mobilização social ¿ disse Valente.