Título: O racha do PT
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 28/05/2005, O Globo, p. 2

Primeiro foi o PSTU, depois o P-SOL. Vem aí um novo racha no PT. A posição de um grupo de petistas, de apoio à CPI dos Correios, é o ponto de ruptura de um cisma interno que começou com a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A divisão no PT está provocando também um realinhamento político nas tendências de esquerda do partido. Elas se dividiram diante do dilema da CPI.

A posição contra a CPI foi assumida pelo chamado Campo Majoritário, que engloba as tendências Unidade na Luta e Democracia Radical, que apóiam a reeleição de José Genoino para a presidência do PT. Outras duas correntes acompanharam esta posição. O Movimento PT, que tem como candidata a deputada Maria do Rosário (RS), e a Articulação de Esquerda, que concorre com o vice-presidente Valter Pomar.

A Democracia Socialista, grupamento a que pertenceu a senadora Heloísa Helena (P-SOL-AL), cujo candidato para presidir o PT é o ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont, se dividiu. Pelo menos cinco de seus militantes fincaram pé na CPI. Já a tendência Ação Popular Socialista, e os que estão com a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio, fecharam com a investigação proposta pela oposição. Por isso, estão sendo chamados pelos moderados de ¿ultra-esquerda¿.

¿ Esse pessoal é contra o governo desde janeiro de 2003. É contra a política de alianças e contra a política econômica. Eles dizem que o PT já não representa mais os trabalhadores. Eles têm outro programa e são um outro partido ¿ diz o secretário de Relações Internacionais, Paulo Ferreira.

Apesar das declarações do ministro José Dirceu e de José Genoino, sugerindo que estes petistas seriam colocados para fora do partido, nada indica que isso ocorrerá tão cedo. Antes de deixar o partido eles vão participar, em setembro, das eleições para a presidência e demais cargos de direção do partido. Mesmo que sejam derrotados não haverá tempo para que se organizem numa nova legenda, pois o prazo de filiação para concorrer se esgota em outubro. O processo de criação de um novo partido só deverá se materializar depois das eleições de 2006. Até lá, estes petistas, e outros que neste momento recuaram, vão esticar a corda, renegando o PT que está no governo e pregando a volta ao passado, para que ¿o PT volte a ser PT¿.