Título: Lula: oposição faz palanque de CPI
Autor: Gilberto Scofiled Jr. e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 28/05/2005, O País, p. 3

Presidente reafirma necessidade de blindar a economia de questões políticas e eleitorais

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva falou ontem pela primeira vez sobre a abertura da CPI dos Correios durante conversa com o presidente de Portugal, Jorge Sampaio. Segundo o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), que acompanhou o encontro, Lula disse que a disputa eleitoral de 2006 já está antecipada no Brasil e que a criação da CPI dos Correios é um reflexo disso.

Lula, segundo o governador gaúcho, constatou que no Brasil os processos eleitorais sempre são deflagrados com antecedência. O assunto começou quando Sampaio comentou com Lula as dificuldades políticas que o novo primeiro-ministro do país, José Sócrates, enfrenta para implementar reformas.

¿ O presidente Lula começou a falar sobre a CPI e explicou a Sampaio toda a história, mas disse que, apesar de ter mandado investigar o assunto tanto pelos Correios quanto pela PF, o Congresso insistia numa CPI buscando usá-la como palanque e tentando antecipar o período eleitoral. Ele deu a entender que as duas coisas estavam vinculadas ¿ disse o governador.

Até então, Lula vinha evitando falar sobre o assunto até com integrantes da comitiva oficial.

¿Não tomaremos medida populista¿

Sem citar nomes ou casos específicos, Lula aproveitou ontem um discurso de improviso para empresários e investidores japoneses para mandar recados ao Brasil. Ele criticou aqueles que só agem ¿de eleição em eleição¿ e não conseguem pensar num projeto de 20 ou 30 anos de desenvolvimento para o país. Afirmou que o governo não vai arriscar a política econômica com medidas populistas.

Lula falou sobre a necessidade de blindar a economia das questões políticas e eleitorais no encerramento do seminário.

¿ Muitas vezes as pessoas não conseguem pensar para 20 anos, para 30 anos. As pessoas conseguem pensar de eleição em eleição. Não é possível e nem é justo que um homem, por mais importante que seja, possa colocar seus interesses pessoais acima dos interesses de uma nação ¿ disse Lula.

O presidente disse que o Brasil não tem volta e fez uma crítica aos governos anteriores, afirmando que a falta de visão de futuro impediu que o Brasil crescesse mais rapidamente:

¿ O Brasil vai ter que aproveitar todos os momentos positivos que puder ter para que no século 21 se transforme definitivamente numa grande economia. Já podíamos ter chegado lá.

Lula foi aplaudido quando enfatizou que não tomará medidas na área econômica pensando na questão eleitoral.

¿ Não tomaremos qualquer atitude que possa significar tornar a economia brasileira vulnerável e nem tampouco qualquer medida populista, que muitas vezes serve para eleger os candidatos, mas afunda o Brasil em anos e anos de recessão ¿ disse o presidente, enfático, que foi além:

¿ Se quisermos conquistar respeito dentro e fora do país com os nossos investidores e os externos, temos que dizer em alto e bom som que não haverá surpresa na economia, aqueles anúncios mirabolantes em que as pessoas pensam que conquistaram o céu e, meses depois, estão quebradas porque o plano econômico não deu certo, como já aconteceu em outros momentos.

Em outra crítica a seus adversários, Lula disse que muitas pessoas no Brasil pensam pequeno:

¿ Perdi três eleições até chegar à Presidência e digo todo dia: o Brasil não pode mais jogar oportunidade fora. Lamentavelmente, tem muita gente que, embora tendo cargos importantes, pensa pequeno.

Lula repetiu várias vezes que o governo agirá com seriedade na condução da política econômica e da administração dos recursos públicos. O presidente abandonou os discursos lidos dos últimos dias e fez questão de falar de improviso:

¿ Não brincamos quando se trata de política econômica. Temos que agir com seriedade, não brincar de fazer política econômica e não gastar mais do que pode gastar ou mais do que pode arrecadar ¿ disse.

Num momento em que explodem denúncias de corrupção, Lula disse aos empresários que é preciso dar demonstrações de seriedade no trato do dinheiro público. Para ele, é preciso ¿tomar conta das contas públicas como se estivéssemos tomando conta do salário que levamos para casa¿.

No metrô, como um guia turístico

Em pleno dia de trabalho e correria na cidade de Tóquio, Lula fez ontem uma visita a uma estação de metrô para conhecer uma composição toda decorada com fotografias do Brasil. A visita acabou causando um pequeno tumulto na rua da estação. Animado depois de percorrer o vagão, Lula incorporou a missão de guia turístico: indicou a uma funcionária solteira do metrô as Cataratas do Iguaçu (PR) para uma futura lua-de-mel e disse a um funcionário que os Lençóis Maranhenses são um lugar maravilhoso, chamando a atenção de que lá ele poderia conhecer as mulheres brasileiras.