Título: ESPERAR PARA VER
Autor: Fernanda Pontes
Fonte: O Globo, 28/05/2005, Rio, p. 12

`Xerife¿ inicia hoje operações de controle urbano na orla. Mendigos são o maior desafio

Aprimeira operação de controle urbano nas praias coordenada pelo novo ¿xerife¿ da orla, Rafael Luiz Morais de Souza Bandeira, foi marcada para hoje. Guardas municipais em parceria com a Comlurb e a Secretaria municipal de Governo vão concentrar esforços para retirar todas as propagandas irregulares das praias da Zona Sul. Este será o início de uma série de intervenções na orla. Uma das etapas mais complexas do trabalho, entretanto, é o acolhimento de mendigos, que ontem ocupavam parte do canteiro central de um dos mais famosos cartões-postais do Rio, a Avenida Atlântica, em Copacabana.

Para o ¿xerife¿, a tarefa é complexa porque exige um trabalho preventivo por parte do município, já que muitos mendigos voltam para as ruas se não encontram outras maneiras de sobreviver. Em Copacabana, eles conseguem locais para descansar e ganhar dinheiro pedindo esmolas.

¿ Não adianta a gente retirar os moradores da rua porque eles voltam. O problema é mais sério e vamos contar com o apoio da Secretaria municipal de Assistência Social para tentarmos solucionar o problema ¿ afirma Bandeira.

Ontem, dezenas de mendigos podiam ser vistos em quase toda a orla do Leme e de Copacabana. Próximo a hotéis como o Othon Palace e o Méridien, eles dormiam no canteiro central da Atlântica e nas areias da praia, ao lado de tapumes de obras de quiosques e da arquibancada onde foi realizada a Copa do Mundo de futebol. Reunidos em grupos, eles guardavam seus objetos pessoais em carrinhos de supermercado e sacolas. Alguns aproveitaram os galhos de árvores para estender suas roupas.

Mendigos preferem Copacabana

O que preocupa o presidente da Sociedade Amigos de Copacabana (SAC), Horácio Magalhães, não é somente a quantidade de moradores de rua no bairro, mas os pequenos delitos cometidos por alguns deles.

¿ A linha entre a indigência e a delinqüência é muito tênue, já que o morador de rua não tem dinheiro. Acredito que o problema será resolvido quando houver uma ação conjunta entre a prefeitura e o governo do estado ¿ acredita Magalhães.

Ele atribui a preferência de mendigos por Copacabana, entre outros motivos, à concentração de turistas no bairro:

¿ Além de esmolas de turistas, temos igrejas oferecendo sopas de graça ¿ disse.

A Secretaria municipal de Assistência Social confirma a preferência de mendigos, que vivem na orla, pelo bairro. O órgão garante que as operações de acolhimento são realizadas com freqüência.

¿ Muitos moradores de rua têm casa, mas preferem esmolar. Alguns deixaram sua moradia porque já tiveram problemas com a família e até com traficantes em favelas. Em Copacabana, sei que há muitos alcoólatras. Muitos deles conseguem dinheiro e objetos no bairro, além de comida gratuita oferecida por entidades religiosas ¿ explica Marília Rocha, presidente do Fundo Municipal de Desenvolvimento Social (Fundo Rio).

De acordo com o cronograma do município, toda publicidade ilegal nas areias será retirada hoje, quando, por ser sábado, a concentração de irregularidades na orla aumenta. A próxima operação nas praias será feita em parceria com a CET-Rio. O objetivo é coibir a ocupação de vagas por kombis e caminhões usados como depósito de mercadorias de ambulantes.

A ocupação das areias por vendedores também está na mira da fiscalização da prefeitura. Assim que for concluído o recadastramento dos ambulantes em Ipanema e no Leblon, o município planeja retirar todos os que trabalham irregularmente. Segundo o ¿xerife¿, em Copacabana já foram recadastrados 194 vendedores trabalhando em situação regular.