Título: ... E O BC NÃO DÁ TRÉGUA: JUROS PODEM SUBIR DE NOVO
Autor: Enio Vieira e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 28/05/2005, Economia, p. 19

Ata do Copom mostra receio com as expectativas para inflação e com o cumprimento da meta de 2006

BRASÍLIA e RIO. O Banco Central (BC) está preocupado com os números da inflação, que continuam acima do esperado nos últimos meses, e com os efeitos desta alta nas expectativas do mercado. Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de maio, que subiu os juros de 19,5% para 19,75% ano, a autoridade monetária indicou que pode manter o aumento da taxa básica nos próximos meses.

O receio está no risco de que a inflação contamine as projeções e dificulte o cumprimento da meta de 4,5% estabelecida para 2006.

Cenário externo melhor e economia em ritmo mais lento

Os diretores do BC praticamente repetiram os argumentos da ata de abril, dizendo que estão prontos até para elevar o ritmo de elevação dos juros: ¿Esses riscos estão associados à persistência de focos de pressão na inflação corrente, que contaminaram a inflação de abril, fizeram com que se deteriorassem as expectativas para 2005 e provocaram a permanência dos núcleos (de inflação, que descontam influências sazonais) em níveis elevados¿, diz o texto.

A ata destaca que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, usado nas metas do BC) chegou a 0,87% em abril e, em 12 meses, acumula alta de 8%, distante da meta de 5,1% para 2005. Para o Copom, os efeitos da alta nos juros ainda não se manifestaram integralmente:

¿O Comitê avaliou que somente a perspectiva de manutenção da taxa de juros básica por um período suficientemente longo de tempo no nível estabelecido em sua reunião de abril não proporcionaria condições adequadas para assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas¿.

Na ata, os diretores do BC apontaram que a economia está crescendo a um ritmo mais lento, mas as empresas voltaram a registrar em março níveis recorde de uso de sua capacidade instalada de produção.

O Copom está mais otimista com a economia mundial. A ata ressaltou que não houve o impacto negativo esperado com a piora da classificação de risco dos papéis de grandes empresas, como a General Motors. Tanto que o real vem se valorizando frente ao dólar. O risco de turbulências externas que vinha sendo citado em atas anteriores agora foi descartado. Outro dado positivo foi a queda dos preços da gasolina no mercado internacional, diminuindo a necessidade de um reajuste do produto no Brasil.

¿O Comitê mantém a hipótese de que não haverá reajuste nos preços domésticos dos combustíveis em 2005. No entanto, é importante assinalar que, enquanto os preços internacionais mantiverem oscilações de grande amplitude ou se mantiverem os patamares médios observados nos últimos meses, esse elemento continua a representar risco¿, diz a ata.

Os analistas acreditam que, daqui para a frente, o BC ficará atento ao resultado da inflação em maio e ao dado sobre crescimento da economia brasileira no primeiro trimestre, que o IBGE divulga na semana que vem. O economista Élson Teles, da Fides Asset Management, acredita que o BC poderá interromper o ciclo de alta de juros, pois a tendência é de um recuo da inflação. Ele espera um IPCA abaixo de 0,60% em maio.

¿ A cotação do petróleo está mais alta, porém o real se apreciou, em parte compensando esse movimento. A tendência é de manutenção de juros em junho ¿ afirma Teles.

Projeção do BC indica que juros poderiam cair no 2º semestre

O Bradesco prevê um IPCA de 0,55% em maio. Em relatório distribuído ontem, o banco destaca que, na ata do Copom, o BC estima que a inflação acumulada em 12 meses ficará abaixo das metas de 2005 e 2006 entre abril e junho do ano que vem. Como as mudanças nos juros levam de seis a nove meses para surtir efeito, haveria espaço, na avaliação do Bradesco, para o BC reduzir a taxa básica Selic a partir de meados do segundo semestre deste ano.

Marcelo Salomon, do Unibanco, também prevê um IPCA de 0,55% em maio, porém é cauteloso quanto às chances de uma interrupção no ciclo de alta de juros. Ele lembra que as atuais expectativas de inflação ameaçam até o cumprimento do teto da meta para este ano, que é de 7%.

DÓLAR CAI A R$2,38, O MENOR NÍVEL DESDE 2002 , na página 20