Título: ECONOMISTAS TEMEM PAÍS VULNERÁVEL
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 28/05/2005, Economia, p. 20

Analistas de esquerda querem controle de capital de curto prazo e novo indexador

SÃO PAULO. Reunidos desde terça-feira em Campinas (interior de São Paulo), economistas de esquerda lançaram ontem manifesto com fortes críticas ao governo Lula, pedindo mudanças na política econômica. Intitulado ¿Carta de Campinas¿, o documento defende o controle do fluxo de capitais de curto prazo, para reduzir a volatilidade do dólar, e a troca de indexadores para reajustar as tarifas públicas, como alternativa para controlar a inflação. Para os economistas, o país ainda não está livre da armadilha da vulnerabilidade externa.

¿A vitória de Lula nas eleições de 2002 acenou para a possibilidade de inversão de trajetória, mas o novo governo não apresentou um projeto alternativo à agenda neoliberal. A submissão incondicional da economia brasileira aos movimentos do capital financeiro destruiu mais essa esperança¿, diz o texto, divulgado durante o encerramento do 10º Encontro Nacional de Economia Política, promovido pela Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP), que reúne acadêmicos de diversas entidades.

Segundo os economistas, a ¿Carta de Campinas¿ aprofunda o tom crítico exposto inicialmente na ¿Carta de Uberlândia¿ (MG), de junho do ano passado. Até então, o grupo misturava descontentamento e esperança em relação ao governo. Desta vez, a esperança perdeu lugar frente à ¿ausência de um projeto nacional de desenvolvimento¿.

Carta: meta apertada afeta PIB e atrai capital especulativo

¿À manutenção de uma situação econômica deplorável somam-se hoje o esgarçamento do tecido social e o aumento da tensão política produzidos fundamentalmente pela anomia na gestão da política econômica. Assim, para que o país não se afunde em uma crise institucional mais grave, é preciso enfrentar esse desafio e promover a imediata alteração da atual política econômica¿, escrevem os economistas em outro trecho do documento.

Entre os organizadores do evento em Campinas estão os economistas Pedro Paulo Bastos, professor da Unicamp; Leda Paulani (USP), Reinaldo Gonçalves (UFRJ) e Wilson Cano (Unicamp). Signatários da Carta, eles afirmam que o país está em uma camisa-de-força, caracterizada pela definição de metas muito apertadas para a inflação. Essa política, além de afetar as perspectivas de crescimento sustentado da economia, atrai mais capitais especulativos, que buscam tirar proveito dos juros pagos no país.

¿Fecha-se assim o círculo vicioso da `credibilidade¿ que aprisiona a economia brasileira e assenta em areia movediça seus fundamentos¿, diz a carta.