Título: Dólar cai para R$2,38, o menor nível desde 2002, com ata do Banco Central
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 28/05/2005, Economia, p. 20

Banco dos EUA também influencia mercado ao elevar aposta em título brasileiro

A expectativa de que o ciclo de alta nos juros ainda não chegou ao fim e a melhora na avaliação do Brasil pelo banco de investimentos americano Merrill Lynch levaram o dólar a uma queda de mais de 1% ontem, rumo à menor cotação desde abril de 2002. Num dia espremido entre um feriado (Corpus Christi) e o fim de semana e em meio a negócios reduzidos, a moeda americana fechou em R$2,384, na mínima do dia ¿ uma queda de 1,08%. É a menor cotação desde 30 de abril de 2002 (R$2,36).

Os juros altos no Brasil, fixados pelo Banco Central (BC), atraem investidores estrangeiros e dólares, reduzindo as cotações. Pelo levantamento da consultoria Economática, numa uma cesta de moedas (de Brasil, Venezuela, Argentina, Chile, Peru, México, Colômbia e União Européia), a maior queda registrada pelo dólar no ano e em 12 meses é em relação ao real. No ano, o recuo é de 9,83% ¿ mais de três vezes a desvalorização da moeda em relação ao peso argentino (2,68%), segundo colocado no ranking. Em 12 meses, a queda chega a 24,08%.

Merrill Lynch havia reduzido indicação em março

Em relatório mensal sobre mercados emergentes enviado ontem a clientes, o analista-chefe de Mercados Emergentes do Merrill Lynch, Tulio Vera, informa que elevou os investimentos nos títulos da dívida brasileira, passando-os de ¿na média do mercado¿ para ¿acima da média do mercado¿. Há dois meses e meio, o mesmo banco havia reduzido os investimentos nos papéis brasileiros, para aumentar os recursos em caixa.

Para Vera ¿ que também elevou os investimentos nos títulos de Uruguai e Nigéria ¿ apesar da forte alta dos títulos brasileiros e da recente deterioração do quadro político, os papéis devem subir, atingindo novos recordes.

Ontem, por exemplo, o Global 40, título mais negociado da dívida externa brasileira, subiu 0,64%, para 118,3% do valor de face, próximo ao recorde de 118,93%, alcançado em dezembro do ano passado. O C-Bond, outro título bastante negociado, também se aproximou das máximas históricas: subiu ontem 0,31%, cotado a 101,94% do valor de face. O maior valor já registrado pelo papel foi em fevereiro deste ano (102,92%).

Bônus de emergentes têm maior captação em dez anos

A forte procura pelos títulos se deve à elevada rentabilidade para o investidor. O Global 40 rende 8,3% ao ano e o C-Bond, 7,45%. Já os papéis do Tesouro dos EUA usados como referência para o mercado, com vencimento em dez anos, dão um retorno de 4% ao ano, metade do que é pago pelos títulos brasileiros.

A alta rentabilidade fez com que o fluxo de recursos para fundos que aplicam em bônus de países emergentes ¿ mercado liderado pelo Brasil ¿ tivesse, em 2005, a maior captação em dez anos. Segundo relatório da consultoria americana Emerging Portfolio Fund Research, esses fundos captaram mais de US$3 bilhões no ano, até 25 de maio. Para o analista Cameron Brandt, a perspectiva de os juros americanos subirem gradualmente aumentou a atratividade dos papéis de países emergentes.

Ontem, a Bolsa subiu 3,17%, impulsionada pelos papéis de empresas de siderurgia e do setor elétrico.