Título: SOCORRO A CHIRAC
Autor:
Fonte: O Globo, 28/05/2005, O Mundo, p. 24

Líderes europeus apelam a franceses para aprovar Constituição e `sim¿ tem pequeno avanço

BERLIM e PARIS

Líderes de países europeus saíram ontem em socorro do presidente Jacques Chirac, num esforço de última hora para convencer os eleitores franceses a aprovar a Constituição Européia no referendo de amanhã. Como parte desse esforço, o Bundesrat (câmara alta do Parlamento alemão) ratificou ontem a Carta por maioria esmagadora ¿ apenas um dos 16 estados federais rejeitou o texto. Um dia depois de Chirac fazer um apelo na TV aos eleitores, pesquisas indicaram um pequeno avanço do ¿sim¿, o que animou os defensores da Constituição, apesar de o ¿não¿ se manter na frente.

O presidente do governo espanhol, José Luis Zapatero, participou do encerramento da campanha do ¿sim¿ em Lille, enquanto o chanceler federal alemão, Gerhard Schroeder, fez o mesmo em Toulouse, em sua terceira viagem à França em defesa da Constituição. Em Roma, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi fez um apelo aos franceses:

¿ Repetimos nosso convite ao ¿sim¿ à nova Constituição Européia, porque isto tornará a Europa mais forte e lhe dará um papel ainda maior no palco mundial ¿ afirmou o premier, numa entrevista coletiva ao lado do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, que, a exemplo da França, pretende realizar um referendo.

Em Paris, centenas de partidários do ¿não¿ se reuniram com apoio de sindicatos e partidos de esquerda e extrema-direita.

Uma pesquisa do instituto Ifop realizada nos últimos dois dias mostrou um avanço do ¿não¿, que teria 56% dos votos (dois pontos percentuais a mais em relação à pesquisa anterior). Mas outras duas sondagens realizadas depois do apelo de Chirac na TV indicaram avanço do ¿sim¿. O instituto CSA previu 52% de votos para o ¿não¿ (queda de três pontos), e 49% para o ¿sim¿ (aumento de um ponto). Já o TNS-Sofres previu 51% para o ¿não¿ e 49% para o ¿sim¿.

Na Holanda, premier convoca ministros

A Constituição visa a facilitar o trabalho da União Européia (UE), e requer o apoio de todos os 25 países membros do bloco para ganhar força. Na França, seus defensores dizem que tornará o país e a Europa mais fortes, enquanto os opositores temem um modelo econômico ultraliberal que leve ao aumento do desemprego. Nove países já a aprovaram: Alemanha, Lituânia, Hungria, Eslovênia, Itália, Grécia, Eslováquia, Espanha e Áustria.

Presente à votação de ontem no Bundesrat, o ex-presidente da França Valery Giscard d¿Estaing, um dos idealizadores da Constituição, fez um apelo emocionado a seu povo:

¿ Vamos tornar nosso sonho comum realidade. A dupla ratificação na Alemanha e na França marcará uma histórica passagem para o futuro e a construção de toda a Europa.

Em mensagem de felicitação a Schroeder, Chirac destacou a importância ¿muito especial e simbólica¿ da ratificação do texto na Alemanha. ¿Nossos países sempre estiveram de mãos dadas para fazer progredir a Europa e continuarão¿, disse.

O apoio dos principais partidos políticos facilitou a aprovação no Bundesrat ¿ o Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) já aprovara a Constituição duas semanas antes. Mas o deputado conservador Peter Gauweiler disse que recorrerá ao Tribunal Federal Constitucional, por entender que a Carta contraria a Constituição alemã, o que poderá dificultar a ratificação do texto pelo presidente Horst Koehler.

Na Holanda ¿ onde pesquisas indicam vitória do ¿não¿ numa consulta popular que será realizada quarta-feira ¿ o primeiro-ministro Jan Peter Balkenende convocou seus ministros para convencerem os eleitores a aprovar a Constituição.

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