Título: BOLÍVIA: PRESTÍGIO DE MESA EM QUEDA
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 28/05/2005, O Mundo, p. 25
Igreja ataca políticos e afirma que eles trabalham para destruir o país
BUENOS AIRES. Quando assumiu o poder em 17 de outubro de 2003, em meio à gravíssima crise política que terminou com a saída de Gonzalo Sánchez de Lozada, o atual presidente da Bolívia, Carlos Mesa, vice de Lozada, contava com o apoio de 82% da população. Segundo pesquisa divulgada ontem pelo jornal ¿La Razón¿, atualmente apenas 44% dos bolivianos respaldam o presidente, que nas últimas semanas enfrentou protestos em todo o país.
A crise política boliviana também abalou a imagem do líder cocaleiro e deputado do Movimento ao Socialismo (MAS), Evo Morales, um dos principais opositores de Mesa. De acordo com a pesquisa, realizada pela empresa Apoyo, Mercado y Opinión, a popularidade de Morales recuou de 27% para 22%. O presidente continua sendo o político com melhor imagem do país, mas os crescentes protestos sociais, somados às iniciativas autonomistas de estados como Santa Cruz, Tarija, Pando e Beni, ameaçam sua permanência no poder. Além da oposição de quase todos os movimentos e partidos do país, Mesa, que antes da queda de Lozada se havia desvinculado do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR, partido do ex-presidente), carece de base política própria.
Em mais um problema para o presidente, ontem renunciou a ministra da Educação, María Soledad Quiroga.
Os tenente-coronéis Julio Galindo e Julio Herrera, que quarta-feira passada exigiram a renúncia do presidente e a dissolução do Congresso, em pronunciamento transmitido por um canal de TV local, foram passados para a reserva. A situação é delicada e levou a Igreja, uma das instituições mais importantes da Bolívia, a fazer duríssimas acusações à classe política.
¿ Enquanto falam em união, todos se preparam para a guerra. Todos dizem não querer um país dividido, mas lutam para destruí-lo ¿ afirmou o cardeal Julio Terrazas, uma das principais autoridades eclesiásticas.
Ontem foram realizados panelaços e marchas em La Paz. Os moradores de El Alto, cidade a 15 quilômetros da capital, saíram novamente às ruas para exigir a nacionalização dos recursos energéticos e a convocação de uma Assembléia Constituinte. Um grupo de prefeitos propôs a realização de uma ¿cúpula nacional de urgência¿ para discutir o futuro do país. O Congresso, que esteve fechado na semana passada por temor de um ataque popular, deve reabrir terça-feira para retomar o debate sobre a convocação de uma Constituinte.