Título: BRASIL CRIA NOVAS TERAPIAS PARA TRATAR TUMORES
Autor: Leonardo Valente
Fonte: O Globo, 28/05/2005, Ciencia e Vida, p. 28

USP desenvolve vacina contra câncer de rim e melanoma, e Inca apresenta tratamento inovador para o pulmão

Pesquisadores brasileiros estão inovando no tratamento de diversas formas de câncer e ganhando reconhecimento internacional. Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) conseguiram desenvolver a primeira vacina do Brasil para tratar de tumores dos rins e melanoma (câncer de pele). Já o Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Rio, é um dos autores de um estudo mundial sobre uma inédita terapia para tratar pacientes com câncer de pulmão em estágio avançado.

A vacina da USP, chamada de HybriCell, conseguiu deter a expansão de tumores cancerosos de rim e melanomas em 80% dos casos. Em alguns pacientes, ela triplicou a expectativa de vida, preservando o bem-estar.

¿ Essa é a primeira vacina desse gênero feita no Brasil e sua eficácia é excelente. É importante lembrar que neste caso a vacina não é uma forma de prevenção, e sim uma técnica, ou seja, um recurso de terapia para o tratamento desses tumores ¿ explica o professor José Alexandre M. Barbuto, do Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a técnica e considerou a vacina um tratamento complementar que deve ser aplicado por médicos oncologistas.

O tratamento não provoca, segundo os médicos, efeitos colaterais expressivos e já está disponível para os médicos. A vacina é produzida de forma individual, a partir de células do próprio paciente, e, quando injetada, ativa o sistema de defesa do organismo para que ele reconheça o tumor como inimigo e parta para o contra-ataque.

Tratamento do Inca reduz drasticamente as reações

Durante a pesquisa clínica, feita com mais de 100 pessoas, o tratamento melhorou a qualidade de vida de pacientes que já tinham a doença espalhada pelo organismo, aumentado a sobrevida em alguns casos de seis para mais de 22 meses.

¿ A Anvisa liberou a vacina como um procedimento complementar, que pode ser oferecido sob a responsabilidade de um médico ¿ explicou Barbuto.

Já o Inca participou de um estudo mundial sobre um novo tratamento para câncer de pulmão, que está entre os seis tipos mais incidentes no Brasil. Os resultados foram publicados na ¿New England Journal of Medicine¿. O tratamento é uma alternativa à quimioterapia e atinge apenas as células malignas, preserva as saudáveis, praticamente acaba com efeitos colaterais e aumenta a sobrevida. O estudo envolveu 731 pacientes em estágio avançado da doença, 18 eram do Inca. A nova terapêutica é administrada com comprimidos e substitui o segundo ciclo de quimioterapia.

¿ Na quimioterapia os efeitos indesejáveis incluem náuseas, queda de cabelo e de imunidade, anemia e vômitos. Com o novo tratamento, os únicos problemas são um pouco de acne e, em alguns casos, diarréia ¿ explica oncologista clínico Mauro Zukin, responsável pela pesquisa no Inca.

O medicamento atua em moléculas específicas dos tumores, bloqueando receptores químicos responsáveis por sua reprodução. Os resultados apontaram que o tempo de vida dos pacientes aumentou, em média, dois meses.