Título: Japão promete melhorar a vida dos dekasseguis
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 27/05/2005, Economia, p. 18

TÓQUIO (Japão). O primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi, deu ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma boa notícia que afetará diretamente a vida dos cerca de 270 mil brasileiros que vivem hoje no país asiático. O Conselho Brasil-Japão para o Século 21 - que será lançado pelas duas nações oficialmente hoje - vai incluir o estudo de ações nas áreas de saúde, educação e previdência, voltadas aos brasileiros descendentes de japoneses (dekasseguis) que moram no país.

Uma das maiores queixas dos dekasseguis é o acesso limitado a serviços de saúde e hospitais. Eles pedem também salas especiais para brasileiros que têm dificuldade com o japonês nas escolas tradicionais, e o reconhecimento de cursos e colégios brasileiros no sistema educacional no Japão.

Em discurso proferido a parlamentares na Dieta (o Congresso japonês), o presidente Lula já tinha deixado claro que tocaria na questão dos imigrantes em sua visita:

- Quero agradecer, do fundo meu coração, à Dieta o apoio que vem prestando para que a comunidade brasileira possa beneficiar-se da mesma oportunidade de integrar-se à sociedade japonesa que os imigrantes japoneses tiveram no Brasil. As medidas de apoio a esses brasileiros, sobretudo nos campos da educação, saúde e previdência, lhes permitirão construir um futuro melhor, seja aqui ou no Brasil.

Apenas 19 escolas brasileiras são reconhecidas no Japão

Ao discursar na sede do parlamento japonês, o presidente Lula disse que entende a angústia dos que decidem emigrar em busca de melhores oportunidades. Em entrevista a jornais da comunidade brasileira, porém, o presidente lembrou que ele mesmo havia percorrido o caminho da migração, "ao deixar, ainda menino, o lar e a vizinhança conhecidos em busca do sonho da prosperidade".

- Vamos celebrar a saga daqueles que construíram uma ponte de amizade que cruza oceanos, aproxima culturas e atravessa séculos. Conheço bem o sentimento ao mesmo tempo de incerteza e de expectativa dessa travessia - disse Lula no parlamento.

Em entrevista ao jornal de língua portuguesa "International Press", o presidente da Associação de Escolas Brasileiras no Japão, Paulo Galvão, afirmou que a principal reivindicação dos dekasseguis é o reconhecimento das escolas brasileiras homologadas pelo Ministério da Educação pelo governo japonês. Hoje, apenas 19 são reconhecidas, o que torna difícil para brasileiros que moram no Japão, mas fizeram curso fundamental e médio no Brasil, prestar vestibular em universidades japonesas.

Outro tema é a criação de salas especiais para brasileiros que não conseguem acompanhar o ritmo do estudo em japonês, e a homologação do currículo escolar de mais de 30 escolas brasileiras. Sobre previdência, o governo brasileiro submeteu aos japoneses proposta para reconhecer o tempo trabalhado nos dois países para fins de aposentadoria.