Título: Lula pede ao Japão que volte a dar prioridade ao Brasil em investimento
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 27/05/2005, Economia, p. 18

TÓQUIO (Japão). Ao discursar ontem no parlamento do Japão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi direto ao dizer que o Brasil quer mais investimentos japoneses e que espera ser fornecedor de etanol para o país asiático - que busca diversificar sua matriz energética. O Japão aprovou legislação permitindo mistura de 3% de etanol à gasolina. Mas precisa assegurar a oferta de combustível e escolher fornecedores.

Ciente de que nos últimos anos o Brasil perdeu espaço para os demais emergentes na atração dos investimentos produtivos do Japão, Lula afirmou que seu desejo é que o Brasil volte a ser o destino preferencial dos empreendimentos daquela nação:

- Queremos voltar a ser o destino preferencial dos empreendimentos japoneses. Pretendemos que o Brasil volte a ser referência prioritária.

Empresários japoneses criticam pressa do Brasil

O Brasil já foi uma das opções preferenciais de investimentos do Japão. Sucessivas crises econômicas, a partir da década de 80, e a ascensão dos tigres asiáticos levaram o país a segundo plano. Em 1995, o Japão investiu US$2,6 bilhões no Brasil. Em 2004, só US$246 milhões. Lula disse que o Brasil quer exportar novos produtos para o Japão, além de matérias-primas. O fluxo comercial entre os países é de US$5,5 bilhões: US$2,7 bilhões para o Brasil e US$2,8 bilhões para o Japão.

- Cada vez mais, o Brasil quer ser exportador de aviões, software e energia limpa.

Discurso otimista à parte, Lula ouviu críticas de empresários japoneses. No café da manhã que teve ontem com 17 empresários dos maiores bancos e conglomerados japoneses o presidente ouviu pedidos para que dê mais definições sobre os projetos de Parcerias Público-Privadas (PPPs).

Os japoneses querem informações sobre limites de gerência do capital estrangeiro nas parcerias, e criticaram a pressa do governo na atração de investimentos para o país. Segundo participantes do encontro, o presidente do banco Mizuho, Hiroshi Saito, teria dito que "os investidores japoneses estão interessados no longo prazo e, no Japão, longo prazo é coisa de 30 anos e não de cinco".

Empresários brasileiros presentes ao café da manhã acharam curiosa a insistência dos japoneses na obtenção de garantias oficiais para possíveis participações nas PPPs, o que pareceria "uma tentativa de reeditar o formato de investimento japonês dos anos 70, em que o governo arcava com todos os riscos", segundo um empresário brasileiro presente ao encontro. Outro ponto citado pelos japoneses foi a Lei Geral das Agências Reguladoras, ainda no Congresso, considerada essencial para novos investimentos.

O presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, informou que a empresa negocia um empréstimo com o Japan Bank for International Cooperation (JBIC) para investimentos em infraestrutura. Estes recursos deverão ser usados pela Vale no projeto da Ferrovia Norte-Sul. A mineradora fechou também empréstimo de US$150 milhões para investir em logística.