Título: O drama da base
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 29/05/2005, O Globo, p. 2

Os articuladores políticos do governo terminaram a semana satisfeitos, apesar da derrota na CPI dos Correios. O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, e o presidente do PT, José Genoino, afirmam que a mobilização do governo teve o mérito de reorganizar a base aliada. O governo contaria hoje com uma bancada fiel de 300 deputados. Mas nada aponta para o fim da instabilidade.

A oposição vai continuar agindo para estimular a desconfiança e os atritos constantes na coalizão governista. Os aliados se sentem abandonados nas horas difíceis pelo PT e não conseguem ainda vislumbrar uma perspectiva comum nas eleições de 2006. É nesse clima de incertezas que a oposição espera atrair parceiros para criar na sociedade um movimento anti-PT, tendo em vista a sucessão presidencial, a exemplo do que ocorreu em algumas capitais nas eleições municipais.

O governo e o PT estão se armando para enfrentar a tática da oposição. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antes de embarcar para a Ásia, conversou com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e com o senador José Sarney (PMDB-AP), sobre o que é preciso fazer para garantir a mais ampla aliança de apoio à sua reeleição. Os peemedebistas identificaram um movimento da oposição, associada a parcela das elites econômicas, para tentar isolar o governo. Para ambos, solucionada a questão eleitoral nos estados, estará se resolvendo também a questão da maioria no Congresso.

¿ No Brasil não se fazem alianças programáticas. E o PT nunca quis dar fundamento político à aliança. Os acordos políticos são baseados num tripé: espaços de poder, investimentos públicos e parceria eleitoral ¿ diz Renan Calheiros.

Sendo assim, se as coalizões partidárias se fazem em torno de cargos, verbas e votos, são nestes fatores que estão as dificuldades que o governo Lula enfrenta com sua base. Para o presidente do Senado, o PT usou os cargos para fazer sua política interna e não para amarrar apoios no Congresso. O uso político dos investimentos públicos é extremamente limitado pelas dificuldades econômicas e pela necessidade de fazer superávit primário. Sem cargos e verbas, os aliados ainda terão de enfrentar os petistas como adversários nas eleições, como sugere o lançamento de candidatos petistas aos governos. Por isso, Renan Calheiros, e governistas do PMDB, já não acreditam que se possa desatar o nó da maioria parlamentar.