Título: `Só haverá recesso se houver CPI¿
Autor: Adriana Vasconcelos e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 29/05/2005, O País, p. 3
Para instalar a CPI dos Correios, a oposição está disposta a obstruir a votação de projetos de interesse do governo, diz o líder do PFL na Câmara e autor do requerimento da CPI, Rodrigo Maia (RJ).
Qual será a estratégia da oposição?
RODRIGO MAIA: A primeira estratégia é garantir a instalação da CPI com a indicação dos nossos integrantes e com alguns da base.
Mas a oposição não tem maioria para garantir, por exemplo, quórum para a eleição do presidente.
MAIA: Temos o poder de convencimento, o apoio da opinião pública e a pressão em relação a outros processos que o governo tem interesse no Congresso. Não adianta tentarem adiar para agosto, depois do recesso. O não-recesso passa a ser ponto importante. Não haverá recesso se não houver CPI. O prazo para começar a votar a LDO já venceu. Só haverá recesso se houver CPI.
O governo diz que a oposição usará a CPI como palanque político. A oposição vai usar a CPI como palanque?
MAIA: Não. Quem faz campanha desde o dia 1º de janeiro de 2003 é o presidente Lula. Vamos fazer o que foi decisão do Parlamento e é vontade da população: investigar a corrupção nos Correios. O que o governo, por incrível que pareça, está fazendo é usar métodos que sempre criticou e que não são métodos que levaram a população a eleger o presidente Lula. Ele foi eleito porque representava naquele momento uma posição radicalmente contra tudo o que passou na política brasileira. E a principal mudança que eles representavam era a ética. O governo tem que parar de culpar a oposição pelos seus próprios erros e mostrar que este é um fato isolado.
Se essas investigações avançarem e alcançarem outros órgãos, há risco de crise institucional no país?
MAIA: Não. O que há é um governo que é a sua própria crise e que infelizmente não tem capacidade administrativa. Essa crise não tem parâmetros, mas acho que não chegaremos ao ponto da queda de um presidente.
Mas quando pede uma CPI do governo Lula, que é um presidente com bons índices de popularidade, o que a oposição quer não é algum efeito nas eleições do ano que vem?
MAIA: Não. O que nós queremos é investigar atos de corrupção. Não estamos preocupados em desgastar a imagem do presidente. O que desgasta a imagem do presidente é essa tentativa de evitar a CPI. Um gesto como aquele, botando dinheiro no bolso, desgasta qualquer governo. No caso do PT, que sempre trouxe a bandeira da ética, o ato de corrupção mostra que nada mudou nesse campo. O desgaste virá por esse motivo.