Título: `A CPI já está contaminada¿
Autor: Adriana Vasconcelos e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 29/05/2005, O País, p. 3
O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), não esconde que sua tática será ganhar tempo, evitando indicar imediatamente os integrantes da CPI. Para ele, a disputa eleitoral já foi contaminada.
A CPI é uma realidade. E agora?
ARLINDO CHINAGLIA: Vou sugerir ao ministro Aldo Rebelo que façamos uma reunião logo no início da semana para estabelecermos nossa estratégia. Cada um de nós deve ter uma opinião sobre como agir.
Os partidos da base vão indicar logo seus representantes?
CHINAGLIA: Na minha opinião, não tem de indicar logo não. Primeiro temos de fazer uma avaliação da situação.
Adiar não empurra o impacto negativo mais para perto da disputa de 2006?
CHINAGLIA: Esta CPI já está mais do que contaminada pelo clima eleitoral.
Como vai ser a briga pela presidência e pela relatoria?
CHINAGLIA: O importante é impedir que a CPI dos Correios seja tão manipulada como foi a do Banestado.
A oposição já fala em autoconvocação do Congresso para que a CPI não pare em julho.
CHINAGLIA: Se for para buscar apenas a disputa na CPI, sou contra.
O chefe da Casa Civil, José Dirceu, foi duramente criticado por sugerir a saída dos rebeldes petistas. Como essa crise será tratada?
CHINAGLIA: Os deputados do PT sabiam que este não era um momento comum. Portanto, erraram. As opiniões do ministro, boto no plano político. E, no plano político, os deputados devem cumprir as decisões do partido, porque é a democracia interna. Não acho justo com o conjunto, quando alguns tomam a decisão, porque ficam parecendo que são melhores do que os outros e não são.
O PT está pagando hoje o preço por ter proposto tantas CPIs no passado?
CHINAGLIA: Se explicarmos as razões, acredito que elas são mais do que suficientes e necessárias. Acho que o PT, se não convencer sobre o motivo de nossa posição, pode sofrer um desastre. De qualquer forma, o PT tem história, temos um passado e isso a população tem maturidade para perceber.
A articulação política do governo falhou mais uma vez?
CHINAGLIA: Não. Em absoluto. Há tempos que a base aliada não trabalhava tão unida e com tanta intensidade. Teve coordenação e trabalho, mas isso não foi suficiente.
Este é o momento mais difícil que o governo enfrenta desde a posse de Lula?
CHINAGLIA: Não acho. O pior momento, para mim, foi quando perdemos a eleição da Mesa da Câmara. Respeitando o presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE), que ganhou limpamente e tem todos os méritos. Mas ali a minha decepção foi muito maior.