Título: CENÁRIOS POSSÍVEIS (2)
Autor: Merval Pereira
Fonte: O Globo, 29/05/2005, O País, p. 4

Os estudos prospectivos da Macroplan abrangem, além dos cenários internos já analisados na coluna de ontem, também os cenários de longo prazo, que estarão concluídos até dezembro deste ano. Em julho, sairão resultados parciais com antevisões territoriais do Brasil em 2025, indicando estados ou regiões em duas situações extremas: as de maior potencial de dinamismo e as mais deprimidas e problemáticas. Segundo o estudo, a trajetória do Brasil nos próximos 20 anos dependerá da combinação de duas incertezas críticas: como se dará a inserção do Brasil na economia e na sociedade mundiais, e com que extensão e intensidade se dará a inclusão social no país nesse período.

No cenário mais otimista, chamado de ¿Desenvolvimento integrado¿, o Brasil alcança níveis altos de desenvolvimento, com uma economia moderna e integrada de forma competitiva no cenário internacional, e forte inclusão social. Nesse caso, o país terá um Estado regulador forte, e com presença ativa nas áreas social, regional e ambiental. Chegará assim em 2025 com altos indicadores sociais e níveis decrescentes de desigualdades. O Chile atual seria um bom ¿paradigma qualitativo¿.

De fato, o Chile vem se destacando nos principais rankings internacionais como a mais competitiva economia latino-americana. No estudo do World Economic Forum (WEF), divulgado este ano, aparece em 19º lugar, enquanto o Brasil está em 51º . O Chile é classificado como em vias de entrar para o Primeiro Mundo.

No cenário seguinte, o de ¿Modernização excludente¿, o Brasil consolida-se como uma economia moderna, fortemente integrada ao sistema econômico mundial, mas é uma sociedade na qual coexistem altos níveis de pobreza e de riqueza. O país possui um Estado enxuto e concentrado nas funções de regulação, educação, saúde e segurança. O Brasil dos anos 90 seria o paradigma. O cenário C é o do ¿Crescimento endógeno¿: uma economia de médio porte, cujo crescimento encontra-se ancorado, sobretudo, no dinamismo do mercado interno e na forte integração regional.

Nesse cenário, o país teria optado por um projeto de desenvolvimento nacional endógeno, com ênfase na melhoria de qualidade de vida e na redução das desigualdades sociais. Priorizando o seu desenvolvimento interno, o Brasil chegaria a 2025 como uma sociedade altamente integrada, com moderadas desigualdades sociais e baixos índices de pobreza. O exemplo seria a Hungria de hoje.

O último cenário é denominado de ¿Decadência com exclusão¿, e o paradigma é a Venezuela de Hugo Chávez. O Brasil atravessaria um longo período de baixo dinamismo econômico e de desorganização de suas instituições. O país seria dominado por crises, instabilidade política e fortes incertezas, que acentuariam a vulnerabilidade a restrições externas e dificultariam a modernização produtiva e a inclusão social. Desse modo, o país chegaria a 2025 com uma sociedade dual, que exibiria fortes desigualdades sociais e regionais, e revelaria crescente distanciamento das nações competitivas.

O cenário mais otimista desenhado pela Macroplan coincide com um relatório da consultoria americana Goldman Sachs sobre os quatro países emergentes que ela considera mais prováveis de estarem no topo da economia mundial nos próximos 50 anos: Brasil, Rússia, Índia e China.

Segundo o estudo, em menos de 40 anos os BRICs juntos poderão ser maiores que os países que formam hoje o G-6 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Inglaterra e Itália). Pelo estudo, o Brasil será a quinta economia do mundo, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB). Pela ordem, serão estas as dez maiores economias do mundo: China, Estados Unidos, Índia, Japão, Brasil, Rússia, Inglaterra, Alemanha, França e Itália.

As maiores economias, medidas pelo Produto Interno Bruto ( PIB), podem, no entanto, não ser as mais ricas em termos de renda per capita. Em 2030 ¿ próximo, portanto, ao cenário da consultoria brasileira ¿ o Brasil teria uma renda per capita de 9.800 dólares, assim como a China. Somadas, as economias dos BRICs representam hoje menos de 15% da economia do G-6. Em 25 anos, podem representar já a metade.

O estudo fez uma projeção levando em conta fatores de produtividade, e chegou à conclusão de que Brasil e Índia, devido a problemas como baixo índice educacional e falta de infra-estrutura, crescerão em velocidade menor do que Rússia e China nos próximos 20 anos.

Para chegar a ser a quinta economia do mundo em 2050, o Brasil terá que crescer em média 3,6% nos próximos anos. Se isso ocorrer, vai ultrapassar a Itália já em 2025, a França em 2031 e Inglaterra e Alemanha em 2036. O problema é que nos últimos 50 anos o crescimento médio do Brasil foi de 5,3%, mas caiu nos últimos 20 anos devido à crise da dívida externa. O crescimento médio da última década foi de 2,9%, e nos últimos 20 anos caiu para pouco mais de 2%.

Segundo as projeções da Goldman Sachs, o Brasil deveria crescer de 2005 a 2010 6,3% em média, o que parece estar descartado desde já, pois o crescimento deste ano deverá ser abaixo de 4% e para 2006 a previsão é de que seja menor ainda.

Essa mudança na economia mundial acontecerá mais acentuadamente nos próximos 30 anos. Em 2025, o gasto em dólares dos BRICs poderá ser o dobro do G-6, e quatro vezes maior em 2050. Para que tenhamos essa trajetória, de ¿desenvolvimento integrado¿ nos próximos 20 anos, será preciso também que, no curto prazo, prevaleça do cenário de ¿Vitória da persistência¿ analisado na coluna de ontem, com contexto externo favorável e, internamente, a manutenção dos pilares da política econômica.