Título: BOM PARA DOIS
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Fonte: O Globo, 29/05/2005, Opinião, p. 6

OBrasil é atualmente campeão em fontes renováveis de energia. O uso do álcool como combustível contribuiu muito para isso, e pouco a pouco essa experiência vai se estendendo a outros países. No ano passado, o Brasil exportou mais de 1,5 bilhão de litros de etanol (álcool carburante) e com os investimentos já em andamento ¿ mais de trinta usinas e destilarias estão em construção, no momento ¿ poderemos ampliar consideravelmente essas vendas ao exterior, desde que haja garantia de demanda.

Nações como o Japão, que são muito dependentes de combustíveis fósseis, estão cada vez mais atentas para o uso do álcool, seja por motivos econômicos (os preços internacionais do petróleo e do carvão subiram muito) ou ambientais ¿ pelo Protocolo de Kioto, economias desenvolvidas terão que reduzir nos próximos anos a emissão de gases que provocam o aquecimento da Terra. Mas, como consumirão grandes quantidades desse combustível, precisam garantir antecipadamente o fornecimento.

Há poucos anos, o governo japonês autorizou os distribuidores de combustíveis a, opcionalmente, adicionarem álcool à gasolina até a proporção de 3%. Quando essa mistura for adotada na prática, isso representará uma demanda de 1,5 bilhão de litros de álcool por ano, mesmo volume que o Brasil exportou no ano passado para vários mercados.

A viagem do presidente Lula ao Japão deve acelerar os entendimentos para que o Brasil possa garantir parte desse fornecimento. Os japoneses, por sua vez, devem assegurar a compra de um volume que justifique novos investimentos necessários para suprir seu mercado. Acordos de longo prazo podem afastar os temores de alta nos preços do álcool, quando começarem a importá-lo firmemente.

Os interesses dos dois países convergem nesse campo. O comércio entre ambos vem diminuindo de importância, e um dos caminhos para revitalizá-lo é o fornecimento de etanol. Em 2006, comemoram-se cem anos da emigração japonesa para o Brasil, e um entendimento sobre o uso do álcool carburante no Japão consagraria essa data, servindo de exemplo para o mundo.