Título: OS HERDEIROS DE HITLER CONTINUAM ATIVOS
Autor: Osias Wurman
Fonte: O Globo, 29/05/2005, Opinião, p. 7

Omundo celebra este ano dois eventos que merecem uma reflexão especial. O primeiro refere-se aos 60 anos da derrota nazista e o outro diz respeito ao centenário das descobertas de Albert Einstein.

Em 1905, Einstein divulgou sua Teoria da Relatividade Especial e Restrita, a hipótese do quantum de luz e a Teoria do Movimento Browniano. Em face disso, teve um tratamento especial ao ser admitido, em 1909, como professor associado na Universidade de Zurique. Normalmente, seria recusado por ser judeu.

Em 1914, Einstein aceitou um cargo em Berlim, na Alemanha, onde os judeus não podiam ser magistrados ou tenentes, embora ainda pudessem lecionar nas universidades, sendo titulares em 25 cadeiras. Paradoxalmente, cerca de 100 mil judeus lutaram no exército alemão, durante a Primeira Guerra Mundial.

Durante os anos 20, quando os judeus começaram a ser discriminados pelo Partido Nazista em ascensão, sendo acusados como responsáveis pelo caos econômico da Alemanha, os cientistas judeus, e em especial Einstein, transformaram-se em alvos prediletos. Para demonstrar o estado de espírito em que o cientista se encontrava, recorremos ao seu discurso de dezembro de 1929 na Universidade de Sorbonne, em Paris: ¿Se a minha Teoria da Relatividade estiver certa, a Alemanha dirá que sou alemão e a França irá me declarar um cidadão do mundo; caso contrário, a França dirá que sou alemão e a Alemanha dirá que sou um judeu.¿

Fugindo do nazismo, em 1933, a família Einstein partiu de Berlim para os Estados Unidos, onde Albert aceitou o convite para lecionar no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, em Nova Jersey.

Apesar de seu espírito pacifista, Einstein pregou uma ação militar enérgica contra Hitler. Pressionou o governo americano para que aceitasse, em maior número, o ingresso de imigrantes judeus da Alemanha. Foi quando se tornou um apaixonado pela causa sionista, apoiando as campanhas para financiar a ida de judeus europeus para a Palestina. Merece destaque sua constante preocupação em preservar os direitos dos árabes em um futuro Estado judeu.

Em 1945, os nazistas foram fulminados definitivamente, mas é sempre importante lembrar que para Adolph Hitler os judeus constituíam-se numa raça inferior e eram os principais responsáveis pela social-democracia que antagonizava com o nacional-socialismo ou nazismo.

Einstein debitava à dispersão judaica o ódio historicamente direcionado a seus irmãos. Explicava dizendo que os judeus sempre foram pequenas minorias nos países em que habitavam, mas com um número desproporcional de figuras públicas proeminentes. Foi um adepto da tese de que as estradas para os campos de concentração foram abertas pelo ódio, porém foram pavimentadas pela indiferença.

Preocupado com a discriminação que sofrera em sua terra natal, a Alemanha, impedindo seus estudos científicos, Einstein tornou-se um dos precursores da Universidade Hebraica de Jerusalém, fundada na Palestina em 1925, no Monte Scopus, muito antes da criação do Estado de Israel. Atualmente, a universidade, com seus 23 mil alunos, é o maior centro de ensino e pesquisa do Oriente Médio.

Em reconhecimento a sua figura histórica e científica, ao seu renome mundial e à sua dedicação ativa em apoio ao sionismo, o primeiro-ministro de Israel, David Ben Gurion, convidou Einstein, em novembro de 1952, para ocupar a liderança do Estado judeu. Einstein respondeu: ¿Minha relação com os judeus se tornou meu laço humano mais forte desde quando dei conta, completamente, de nossa situação precária entre as nações do mundo. Estou comovido pelo convite, mas entristecido e envergonhado por não poder aceitar.¿

Einstein morreu em abril de 1955 e continua a ser homenageado até nossos dias, pelo que representou como cientista, humanista e grande benfeitor do gênero humano. Sua célebre pergunta em 1944 ecoa: ¿Por que será que ninguém me entende e todos me adoram?¿

O nazismo hitlerista morreu, em tese, no ano de 1945, mas seus herdeiros andam ativos em nossos dias, apesar da desgraça que esta doutrina impôs a toda a Humanidade.

OSIAS WURMAN é presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro.