Título: MANOBRA PARA CONTROLAR CPI
Autor: Maria Lima e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 30/05/2005, O País, p. 3

Governo articula bloco com PMDB no Senado para assumir presidência e relatoria

¿ A formação do bloco com o PMDB é um questão de autodefesa. Se o PFL se uniu ao PSDB para confrontar o governo, nada mais justo que façamos o bloco para dar ao PMDB a relatoria ¿ defendeu o ex-líder do governo Professor Luizinho (PT-SP).

¿ Não posso falar que quero ter um filho com alguém se não sei se esse alguém quer ter filho também. Antes será preciso discutir a estratégia de atuação da base aliada ¿ disse o líder do PMDB, Ney Suassuna (PB).

Oposição promete embate jurídico

A articulação que será posta em marcha vai virar um embate jurídico, já que a oposição diz que isso não seria possível depois da instalação da CPI. Mas ela só será instalada de fato após a indicação da maioria dos membros e da eleição do seu presidente, o que ainda ocorrerá.

¿ Será mais um golpezinho baixo do governo, que só criará tensões desnecessárias. Mesmo que tenham a presidência e a relatoria, não vão poder evitar a convocação de pessoas nem as perguntas que lhes faremos ¿ reagiu o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP).

¿ Se eles fizerem isso vão estabelecer uma longa guerra. Vamos questionar se um bloco feito depois da criação da CPI pode ter efeito sobre ela. De qualquer forma, não acredito que o PMDB vá se submeter a isso ¿ completou o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN).

Na Câmara e no Senado, vários líderes já definiram quem serão os indicados para compor a CPI. A oposição espera que em junho a CPI dos Correios já esteja instalada.

Autor do requerimento da CPI, o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), disse que a oposição já está preparada para obstruir o funcionamento da Comissão Mista do Orçamento, que será instalada esta semana.

¿ Nossas tropas já estão alinhadas e nossa principal arma é o apoio da sociedade. Se a CPI não funcionar, vamos pegar no calo do governo: a Comissão do Orçamento também não funciona ¿ avisou Maia.

Jucá pode ser levado a se demitir

Mas, para o bloco se confirmar, alguns entraves precisarão ser contornados. Entre eles, uma opção que vem sendo avaliada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva: colocar em prática o chamado ¿choque ético¿. Isso consistiria na demissão ou no afastamento temporário do ministro da Previdência, Romero Jucá, que é do PMDB e está sendo investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Essa linha de ação poderia incluir ainda o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que também é alvo de inquérito na Corte máxima.

Segundo líderes da base, com a ajuda do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do senador José Sarney (PMDB-AP), Lula estaria negociando para que Jucá entregasse o cargo. O presidente quer fazer um gesto de que não está conivente com corrupção. Mas também não quer brigar com o PMDB. Renan já teria aceito a substituição de Jucá.