Título: UNIDOS, LÍDERES LAMENTAM
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 30/05/2005, O Mundo, p. 26
Cúpula da UE afirma que derrota pede reflexão
BRUXELAS. O temido mas esperado ¿não¿ francês ao tratado constitucional europeu motivou manifestação inédita e simbólica por parte das mais altas autoridades da União Européia (UE). Em nota oficial conjunta, divulgada depois das 23 horas de Bruxelas, os presidentes da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso; do Parlamento Europeu, Josep Borrell; e do Conselho da UE, Jean-Claude Juncker, lamentaram a escolha feita pelo eleitorado de ¿um Estado membro que é há 50 anos um dos motores essenciais da construção do nosso futuro comum¿.
Embora declarem respeitar o resultado democrático do referendo, os representantes europeus salientaram que nove países, que correspondem a 49% da população da UE, já haviam dito ¿sim¿ à Constituição. Segundo eles, seria necessária uma ¿análise profunda¿ do acontecimento, ¿em primeiro lugar por parte das autoridades francesas¿. Mas admitem que a derrota de ontem é motivo de reflexão para todos ¿ governos nacionais, instituições européias, partidos políticos e sociedade civil. ¿Continuamos a crer que uma resposta em nível europeu continua sendo a melhor e mais eficaz em um contexto de acelerada globalização¿, diz a nota.
Para analistas, é verdade que parte da explicação para o resultado do referendo francês pode estar na insatisfação do eleitorado com a política interna do presidente Jacques Chirac, que se engajou ativamente pelo ¿sim¿. Ou ainda na oposição a um suposto modelo liberal representado pela Constituição. Mas não se pode deixar de interpretar o ¿não¿ também como uma crítica ao chamado ¿déficit democrático¿ da UE: os cidadãos sentem-se alheios ao que se decide em Bruxelas. E resolveram protestar.