Título: EX-MILITAR FOI EXPULSO QUANDO ERA MARINHEIRO
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Fonte: O Globo, 29/05/2005, O País, p. 11
Anselmo alega que traiu companheiros após ser torturado
BRASÍLIA. Cabo Anselmo foi expulso da Marinha com a patente de marinheiro de primeira classe. Nunca chegou a cabo, apesar do título pelo qual ficou conhecido. O ex-militar faz o pedido de reparação em duas páginas, apesar de o processo ter mais de 130 folhas, incluindo reportagens, relatórios secretos e depoimentos.
No documento, ele explica por que mudou de lado, trocando a militância de esquerda pelo auxílio à ditadura. Anselmo conta que foi preso pela equipe do Dops de São Paulo, comandada pelo delegado Sérgio Fleury, e que foi torturado.
"Após passar por sessões de tortura ¿ campainha que impedia o sono, corredor polonês, pau-de-arara, entre outras ¿ foi levado à presença do dr. Fleury, que lhe apresentou fotos comprovando que fora seguido muito antes de ser preso, bem como fotos de cadáveres de alguns militantes com quem tivera contato, mortos em tiroteio. A proposição secundada por auxiliares do dr. Fleury naquele momento era: colaborar e viver, ou morrer como tantos outros", diz o texto, assinado por José Anselmo Santos.
Anselmo alega que não pôde manter contato com família
Anselmo afirma que ficou impossibilitado de manter contatos regulares com seus parentes, bem como impedido de constituir uma família regular ou recuperar sua cidadania. "Sobrevive na clandestinidade, apoiado em terceiros, que até hoje desconhecem seu nome de batismo e sua verdadeira identidade", diz o documento.
O processo de Anselmo na Comissão de Anistia será relatado pelo conselheiro Wanderlei de Oliveira, representante das Forças Armadas. O caso deve entrar em pauta em breve. Neste momento, está nas mãos de outro conselheiro, Egmar José de Oliveira. Procurado pelo GLOBO, Egmar preferiu não se pronunciar.
Cabo Anselmo exilou-se na embaixada do México, em 1964. Abandonou o exílio e foi preso pelo Dops do Rio. Fugiu da prisão e seguiu, na clandestinidade, para o Uruguai. De lá, foi para Cuba, com a ajuda de Leonel Brizola, aprender táticas de guerrilha.
Nos documentos, citação a Lamarca e Iara
Anselmo teria sido próximo do Vanguarda Popular Revolucionária (VAR-Palmares). Ele afirma, nos documentos, que teve contato com Carlos Lamarca e com sua companheira, Iara Iavelberg. Foi em outra prisão, em 1971, que teria mudado de lado e traído os ex-companheiros de oposição