Título: MARINHA MONITOROU CABO ANSELMO APÓS DITADURA
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Fonte: O Globo, 29/05/2005, O País, p. 11
Ofício mostra que ex-informante teria sido candidato em Alagoas e participado de greve na Cosipa nos anos 80
BRASÍLIA. Líder do episódio que ficou conhecido como Revolta dos Marinheiros, em março de 1964, José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo, que pertenceu a grupos de esquerda, virou informante dos serviços de inteligência do governo e agora quer ser um anistiado político, foi monitorado pela Marinha mesmo após o fim da ditadura. Um ofício do gabinete do comandante da Marinha, almirante Roberto Carvalho, revela informações do arquivo militar sobre Anselmo com passagens de sua vida até 1988. O documento, ao qual O GLOBO teve acesso, é uma certidão da Marinha, com seis páginas, que conta a vida do cabo Anselmo, desde que foi eleito presidente da Associação dos Marinheiros, em abril de 1963. Ele está com 63 anos e vive clandestinamente, com outra identidade.
Cabo Anselmo teria disputado eleições em 1986
O relatório traz informações curiosas sobre as atividades exercidas pelo ex-militar nos anos 80. Segundo o documento, cabo Anselmo teria disputado as eleições para deputado estadual , em Alagoas, pelo PFL, em 1986. O documento não revela com qual identidade. O relatório é assinado pelo capitão de mar-e-guerra Airton Teixeira Pinho Filho, presidente da subcomissão Permanente de Acesso.
O relatório conta ainda que, em 1988, cabo Anselmo "teve seu nome relacionado entre as pessoas que, durante a a greve da Companhia Siderúrgica Paulista, foram conduzidas à Polícia Federal, em Santos, e, após ouvidas em depoimento, dispensadas". No texto, consta uma passagem de outubro de 2002: o Instituto Félix Pacheco, do Rio, pediu ao Serviço de Identificação da Marinha o envio de cópia da impressões digitais de Anselmo. Era para confrontar com as de um cadáver que se encontrava no Instituto Médico-Legal (IML) e "sobre o qual pairava a suspeita de ser o ex-militar".
Cabo Anselmo protocolou pedido de reparação econômica na Comissão de Anistia do Ministério da Justiça em 13 de fevereiro de 2004. Ele enviou os dados de Guarulhos (SP). Entre os documentos, consta uma foto atual do líder da Revolta dos Marinheiros. Mas, no retrato, ele esconde parte do rosto, usando um boné e um óculos escuros. Até hoje, as fotos conhecidas dele são da década de 60.