Título: INTERNET ILUMINADA Internet via rede elétrica: a tecnologia existe. O que falta é a regulamentação
Autor: Elis Monteiro
Fonte: O Globo, 30/05/2005, Informática etc, p. 1

Evolução rápida da PLC deixa empresas e especialistas bastante animados

Tal qual aconteceu com a tecnologia GSM, que começou na Europa e se alastrou por outros continentes, a intenção do grupo europeu é criar um padrão local de PLC, que poderá, no futuro (ou concomitantemente) ser adotado por outros países. Como participante do projeto, o Brasil também contribuirá com os resultados de suas experiências. Já no próximo mês, devem começar a aparecer as primeiras definições dos projetos de PLC que servirão de contribuição brasileira.

Experiência na área e interesse comercial não faltam para que o projeto deslanche. O que emperra a adoção da tecnologia, além da questão legislativa, é a parte de software, de gerenciamento e bilhetagem de rede. De acordo com Ana Hofmann, há enorme interesse de organizações internacionais para que a infra-estrutura das companhias elétricas seja liberada para a utilização de acesso à internet no Brasil.

¿ Onde tiver TV pode haver também internet. Todo mundo tem TV no Brasil e todo mundo também poderia ter internet ¿ diz Ana.

Tecnologia PLC oferece inúmeras vantagens

O governo ainda não decidiu quem vai prestar o serviço e muito menos quanto vai custar. Espera-se, no entanto, que o acesso via energia elétrica tenha um preço altamente competitivo. Além disso, por se tratar de uma rede nova, várias empresas poderiam dividir a banda e explorar o mesmo serviço. E, como se não fosse o bastante, um só backbone é capaz de cobrir uma área de três quilômetros de raio.

¿ A PLC é a tecnologia que mais fácil viabiliza as políticas de combate à exclusão digital ¿ diz Aderbal Borges, diretor de desenvolvimento de negócios da FITec Inovações Tecnológicas, fundação de pesquisa e desenvolvimento e membro do Fórum Aptel Brasil PLC.

A Associação de Empresas Proprietárias de Infra-Estrutura e Sistemas Privados de Telecomunicações (Aptel) é a responsável pelo contato com os representantes da Comissão Européia, que estiveram no Brasil este ano para conhecer a Ilha Digital PLC em Barreirinhas (MA), projeto coordenado pela Aptel/FITec que usou a energia elétrica para levar a internet a vários pontos da cidade.

Barreirinhas: um bom exemplo

Barreirinhas é um dos projetos-piloto mais importantes de tecnologia PLC, mas há muitos outros. A maior parte das concessionárias já estuda a viabilidade do fornecimento de internet. Já em 2001, a Companhia Paranaense de Eletricidade (Copel) realizou testes em Curitiba, levando conexão à internet em altas taxas a mais de 50 casas, usando tecnologia PLC outdoor. Em 2003, concessionárias como Cemig, Eletropaulo, Copel e Celg já tinham projetos relativos à novidade. Também em 2003, a Light, no Rio, fez as primeiras demonstrações de acesso via rede elétrica em prédios comerciais, residenciais e escolas públicas, através de parceria com o governo do Estado do Rio.

O projeto conseguiu taxas de velocidade superiores a 40 megabits por segundo e uma facilidade operacional grande: ao usuário bastava pegar um modem externo, ligá-lo à placa de rede do micro e à tomada.

Em dois anos, não só a instalação ficou mais simples como foram criadas novas técnicas para a diminuição dos ¿ruídos¿. Para usar a PLC em casa, um equipamento chamado de ¿Master PLC¿, instalado juntamente com o transformador, executa a tarefa de concentrar os sinais de todos os usuários das residências atendidas por esse transformador, para acesso à fibra óptica, rádio ou satélite. Em cada casa haveria um pequeno modem PLC que conversaria com o Master PLC a uma distância que pode chegar a 1.500 metros. Entre o Master PLC e o modem PLC, que formam uma rede VPN, a única forma de comunicação usada é a própria energia elétrica.

¿ Quando sai do distribuidor, o sinal ¿ilumina¿ tudo quanto é canto. Todas as tomadas ficam iluminadas e todos os micros que estiverem dentro de casa passam a comunicar em rede ¿ diz Aderbal Borges, da FITec.

¿Iluminada¿ é o termo escolhido pelos especialistas da FITec e da Aptel para explicar a inserção dos sinais de dados na rede elétrica, transformando-a em condutora de internet.

A partir da ¿iluminação¿, não há limites. Com velocidades de até 200 megabits/s, o que é uma super banda larga, é possível a transmissão de quaisquer tipos de dados e uso de comunicação de Voz sobre IP tranqüilamente. Sem pesar mais na conta de luz. É que a média de consumo de energia da PLC não chega a 10 Watts.

Tanto Petrópolis-Tecnópolis quanto a FITEC já fabricam modems PLC certificados. E muitas empresas no ramo de hardware ¿ Cisco, Motorola e 3Com já criaram até uma entidade, a HomePlug Powerline Alliance, para estudar a tecnologia ¿ já se mostram animadas com as notícias de popularização da internet iluminada.

É esperar. E torcer. (EM)