Título: INTERNET ILUMINADA
Autor: Elis Monteiro
Fonte: O Globo, 30/05/2005, Informática etc, p. 1

Brasil fará parte da criação do padrão de uso da energia elétrica para acesso à web

Osonho de usar a energia elétrica para acessar a internet ganha novo impulso: a partir de junho, o Brasil fará parte da definição do padrão europeu de Power Line Communications (PLC), que propiciará transmissão de voz e dados através das redes de energia elétrica. O Brasil foi o único país fora do chamado Velho Mundo (velho, nada!) a ser escolhido pela Comunidade Européia para contribuir com o projeto Opera 2, que prevê a viabilidade comercial da tecnologia.

Na Europa, a adoção da PLC promete ser rápida. A Comunidade Européia pretende ligar as tomadas da população à rede mundial de computadores até o fim de 2006, com velocidades que podem atingir 200 megabits por segundo. A primeira etapa do programa europeu consumiu 26 milhões de euros e congregou 46 instituições, entre empresas privadas, universidades e governo. Hoje, existem projetos comerciais piloto com velocidades em média de 75 megabits. Mas já existem modems com capacidade para alcançar 200 mbps ¿ para imaginar o tamanho disso, basta pensar naquela velocidade básica de 100kbps alcançada pelo seu acesso ADSL.

O movimento de adoção da PLC no Brasil também é intenso, mas, infelizmente, o projeto ainda esbarra na definição do modelo de negócios ¿ tecnologia existe, equipamentos também, mas não se sabe ainda quem (e a que preço) vai oferecer o acesso direto na casa dos usuários. Concessionárias de energia não estão habilitadas a prestar qualquer outro serviço que não seja fornecer energia ¿ e transmissão de dados não faria parte deste escopo. Com a adesão do Brasil ao programa europeu, no entanto, crescem as esperanças de que o governo consiga dar gás à legislação.

Em São Paulo, alguns pilotos da Eletropaulo já transformam a rede de energia de prédios inteiros em um grande hub. O projeto Petrópolis-Tecnópolis também está colocando a tecnologia em prática e trabalha com o primeiro provedor de acesso à internet via energia para a última milha, no Rio Grande do Sul.

A capilaridade da rede elétrica nacional é o maior incentivo à adoção da PLC. Mais de 95% da população é atingida pela rede elétrica. O potencial, portanto, é gigante para a difusão da internet e serviria aos propósitos de inclusão digital.

Chegamos a um ponto em que tudo é viável. Tecnologia existe, mas há uma briga entre provedoras de energia, empresas de telecom e provedores de acesso independentes ¿ diz Ana Hofmann, gerente executiva do Petrópolis-Tecnópolis e representante no Brasil da Internet Communications Task Force, força-tarefa da ONU para inclusão digital.