Título: FALTA DE INTEGRAÇÃO FRUSTROU REDUÇÃO DE CRIMES
Autor: Dimmi Amora
Fonte: O Globo, 29/05/2005, Rio, p. 18

Cinco anos depois, divisão do estado em áreas de segurança pública tem resultados abaixo da expectativa

Em 1999, o Rio de Janeiro foi dividido em áreas integradas de segurança pública (AISP), que seriam novas unidades administrativas das polícias no estado. Após cinco anos inteiros de funcionamento (2000 a 2004), o que se pode observar é que, do nome, só as áreas foram implantadas. A integração ficou longe e o resultado não foi o esperado. Um levantamento feito pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes (CESeC) sobre números divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) no Diário Oficial mostrou que em apenas uma das 39 AISPs do estado, a de Volta Redonda, houve queda significativa dos registros dos crimes que mais atingem o cidadão.

A soma dos delitos nos cinco anos tem números expressivos. Houve no Estado do Rio 252.501 roubos e furtos de veículos entre 2000 e 2004. O número é o dobro de toda a frota de veículos do município de Nova Iguaçu em 2005, a terceira do estado, e bem maior que a da segunda maior frota, Niterói, que tem 187 mil carros. Se todos os 32.397 homicídios do estado tivessem acontecido em Vassouras, no Vale do Paraíba, no fim do ano passado a cidade não teria mais nenhum morador.

Em algumas AISPs, índices de crimes até aumentaram

Na maioria das AISPs, os índices se mantêm semelhantes aos da época da implantação e, em algumas, houve aumento. A AISP onde houve redução significativa foi a 28ª (Volta Redonda, Quatis, Barra Mansa e Porto Real). Ao longo dos anos, de acordo com o levantamento feito pela pesquisadora Leonarda Musumeci, lá houve queda em sete dos oito tipos de crimes analisados: homicídio, tentativa de homicídio, roubo e furto de automóvel, roubo a transeunte, roubo a residência, roubo em coletivo. Só houve aumento no item auto de resistência (morte em confronto com a polícia), que passou de dois casos no ano 2000 para seis em 2004.

A diferença entre a 28ª AISP e a restante é a integração. Câmeras de segurança e cabines da PM foram instaladas pela prefeitura de Volta Redonda, a maior cidade da região. Elas são operadas em parceria entre a PM e a Guarda Municipal, que foi ampliada. O ex-prefeito Antônio Francisco Neto diz que nenhum investimento no setor era feito sem consultar a polícia. O comandante do 28º BPM, tenente-coronel Jorge Freitas, está há dois anos e meio na cidade. Ele confirma a integração com a prefeitura, mas atribui o sucesso à integração com a comunidade local.

¿ Mais de 80% dos crimes resolvemos com informação a um disque-denúncia próprio. Levamos muito a sério a integração com a comunidade e isso dá resultado. A população tem confiança no nosso trabalho ¿ diz o comandante.

Nas áreas onde o crescimento de crimes foi expressivo, o que se vê é justamente o oposto. No interior, a região onde os crimes tiveram maior crescimento foi a 32ª AISP (Macaé, Rio das Ostras, Casemiro de Abreu e Conceição de Macabu). Ali só não subiram os roubos em coletivos, que caíram em praticamente todas as AISPs em 2004 em relação a 2000 (o único dos oito itens analisados com este comportamento).

O resultado não podia ser diferente. Para se ter uma idéia da falta de integração entre as polícias e a comunidade, a Prefeitura de Macaé implantou câmeras na cidade em 2004. Mas, até hoje, a PM não pode operá-las. O resultado é que, com o crescimento acelerado da população devido à indústria petrolífera, associado ao fluxo de turistas que naturalmente eleva o número de crimes, a violência aumentou significativamente.

Na capital, nenhuma das 18 AISPs conseguiu redução significativa no número de crimes. Na maior parte, há quedas em alguns tipos e crescimento em outros. No levantamento, é possível perceber que os maiores aumentos aconteceram nas AISPs da Leopoldina.

João Fontes, presidente da Associação e Moradores e Amigos do Leblon (AMA-Leblon), que já participou de reuniões entre as polícias e as associações de classe, diz que a integração com a comunidade é estéril na capital:

¿ Raramente a Guarda Municipal estava presente. É uma reunião enfadonha onde ficam tentando ensinar à polícia o que eles devem fazer. Os policiais atendem todos com muita atenção, mas, na prática, não apresentam nada de produtivo em relação às nossas demandas.

Segundo Ana Paula Miranda, diretora do ISP, as atas das reuniões dos conselhos são estudadas pelos técnicos do instituto e há cobrança nos batalhões sobre as demandas da população. Para ela, na capital e principalmente na Zona Sul as reuniões são mais difíceis porque ainda são muito politizadas. Já na Tijuca, onde o conselho funciona e há uma boa integração entre o batalhão e a PM, a situação melhorou em relação a 2000.

¿ A participação da comunidade ajuda muito na melhoria da segurança, sem dúvida. Mas, em muitos lugares, querem só pedir mais polícia.