Título: Planalto monta operação de guerra contra CPI
Autor: Ilimar Franco, Luiza Damé e Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 31/05/2005, O País, p. 5

Líder diz que fará tudo para que comissão não funcione; para Lula, quem torcer pelo fracasso do Brasil `vai quebrar a cara¿

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu sinal verde para o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, montar uma operação de guerra no Congresso para impedir o funcionamento da CPI dos Correios. A decisão foi tomada na manhã de ontem durante reunião no Planalto entre Lula, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, e Aldo. Eles chegaram à conclusão de que a oposição quer a CPI para criar clima de comoção contra o governo Lula, buscando ofuscar os resultados alcançados na economia. Para o governo, a questão se transformou em batalha política.

O presidente disse aos dois ministros que não deixará que a oposição tente atingi-lo e que não descarta convocar uma rede nacional de rádio e televisão para que ele ou um de seus ministros relatem providências tomadas pelo governo diante das denúncias.

Lula pediu rigor nas investigações dos Correios

Ao mesmo tempo que autoriza uma operação de guerra para impedir a CPI, o presidente Lula recebeu à tarde em seu gabinete informações do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e do corregedor-geral da República, Waldyr Pires e José Dirceu (Casa Civil). E também não deverá apelar para medidas éticas, como demitir ministros que respondem a processo no Supremo Tribunal Federal.

¿ O governo não vai resgatar a ética montando um palanque eleitoral para a oposição. Vamos resgatar a ética quando a Polícia Federal apurar os fatos ocorridos nos Correios e os responsáveis forem punidos ¿ disse Aldo Rebelo em conversa com líderes aliados, ontem.

No primeiro pronunciamento no Brasil depois da viagem à Ásia, ontem no seu programa de rádio, o presidente aproveitou o balanço da visita à Coréia do Sul e Japão para falar em otimismo e disposição de lutar. No programa ¿Café com o presidente¿, disse que aqueles que torcem pelo fracasso do país vão ¿quebrar a cara¿.

¿ Voltei com mais gás, voltei muito mais otimista, voltei achando que quem estiver torcendo para o fracasso do Brasil vai quebrar a cara. Pode ficar certo que vai quebrar a cara. Não existe espaço para política menor neste país ¿ disse Lula.

A operação para tentar derrotar a oposição, impedindo a instalação da CPI, começou a ser planejada ontem. Aldo recebeu em seu gabinete os líderes do PMDB, José Borba (PR), do PFL, José Múcio (PE), do PT, Paulo Rocha (PA), e o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Borba informou que os governistas tinham condições, inclusive com o apoio do PMDB, de vencer a batalha na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Na CCJ o governo tentará aprovar o recurso que nega a existência de fato determinado, como prevê a lei, no requerimento que cria a CPI.

¿ Vamos usar o regimento para que a CPI não funcione. Vamos para a guerra. A Polícia Federal está investigando as denúncias. Esta CPI adquiriu caráter político e não vamos montar um palanque contra o governo ¿ disse Paulo Rocha (PT-PA).

Ontem foi constituído um ¿estado-maior¿ para intervir na CCJ, que terá a presença dos deputados petistas Sigmaringa Seixas (DF), Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), José Mentor (SP) e José Eduardo Cardoso (SP). O grupo reúne-se hoje para traçar o plano de trabalho na CCJ.

Na reunião com os ministros Márcio Thomaz Bastos, Waldir Pires e José Dirceu, o presidente Lula cobrou medidas para combater qualquer foco de corrupção no governo. O ministro Thomaz Bastos deve aproveitar o IV Fórum Global de Combate à Corrupção, que acontece na próxima semana em Brasília, para anunciar essas medidas, mas hoje o próprio Lula assinará decreto com mudanças no sistema de pregão eletrônico, que trata das compras governamentais.

Ordem de Lula é apurar denúncias e punir culpados

Lula quer deixar clara para a sociedade a disposição do governo de apurar denúncias, punir culpados e blindar a administração com medidas contra a corrupção. A ordem é que a Polícia Federal vá fundo nas investigações das denúncias de corrupção nos Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) para evitar que elas se tornem munição para a oposição.

Hoje, o presidente deverá se reunir com os três ministros para acertar detalhes da estratégia. O ministro Márcio Thomaz Bastos já fez um balanço do inquérito dos Correios. A PF agora vai se concentrar no inquérito do IRB.

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