Título: BOA PARCERIA
Autor: YOUNG-SUN WOO
Fonte: O Globo, 31/05/2005, Opinião, p. 7

Aimagem da Coréia tornou-se mais conhecida no Brasil graças ao bom resultado na Copa do Mundo de 2002, porém a parceria entre os dois países tem evoluído de modo crescente. Desde 1996 ocorreram quatro encontros presidenciais, incluindo a recém-terminada visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante grande parte da década de 90, a Coréia foi o segundo maior parceiro comercial asiático do Brasil. O volume de comércio entre os dois países alcançou cerca de US$3 bilhões no ano passado, um crescimento significativo em comparação aos períodos anteriores. Os investimentos de empresas coreanas no Brasil atingiram cerca de US$1 bilhão até o ano de 2004, transformando o Brasil no seu maior parceiro comercial na América Latina. Cerca de 50 mil coreanos e seus descendentes vivem hoje no Brasil, formando a quinta maior comunidade coreana no exterior.

Existem, de fato, muitos interesses políticos e econômicos complementares entre os dois países. No setor de Ciência e Tecnologia (C&T), há expectativa de cooperação em tecnologia de informação, área na qual a Coréia se posiciona como um dos países mais avançados do mundo. Em biotecnologia, existe convergência de interesses em química fina e biomateriais coreanos e exploração de biodiversidade do Brasil. O projeto conjunto de biocombustível, que une tecnologia brasileira e fabricantes de automóveis da Coréia, é outra atraente oportunidade. A Coréia tem atingido resultados impactantes na área de Ciência e Tecnologia, posicionando-se atualmente entre os países de vanguarda em competitividade e produção tecnológica inovadora. Na área comercial, além do aumento de volume de produtos comercializados entre o Brasil e a Coréia, como semimanufaturados de ferro e aço e circuitos integrados e microconjuntos eletrônicos, foi assinado um acordo sanitário para exportação de frango. No Forum for East Asia and Latin America (Fealac), os dois países foram eleitos como coordenadores regionais. Tudo indica que o relacionamento político e econômico entre os dois países tenderá a crescer, com identidade própria, numa proporção não imaginada há dez anos.

Em outubro de 2003, o relatório ¿Dreaming with BRICs: The path to 2050¿, da Goldman Sachs ( BRICs é a sigla usada para o bloco Brasil, Rússia, Índia e China), concluiu que a economia brasileira cresceria cerca de 3,6% ao ano, elevando renda per capita em 5 vezes, o que posicionaria o Brasil como a quinta maior economia do mundo em 2050. Ao mesmo tempo, segundo a pesquisa do Korea International Trade Association, nos primeiros nove meses de 2004 foi registrado o aumento de 40%, em relação ao ano anterior, da exportação coreana para os países do grupo BRICs, com 60,5% de aumento para o Brasil.

Além disso, nos últimos anos, evidenciou-se o crescimento de diversas negociações da iniciativa privada e pública dos dois países, principalmente em áreas de C&T e de indústria, muitas das quais em setores estratégicos como siderurgia (Pohang Steel Cooperation e Companhia Vale do Rio Doce) e petroleiro (SK e Petrobras). Na área acadêmica, firmou-se um convênio de cooperação entre o Conselho Nacional de Pesquisa e a Korean Science and Engineering Foundation. Além da Feira de Tecnologia e Produtos da Coréia 2004, em São Paulo, foi também realizada naquela cidade, em maio de 2005, o Brasil-Coréia IT Business Forum, que possibilitou a negociação de contratos no valor de US$45 milhões. São muitas as áreas de interesse comum para a cooperação em C&T entre os dois países, com destaque para tecnologias de informação, biotecnologia, tecnologia aeronáutica e tecnologias limpas.

Diversos aspectos do Brasil, não apenas os comerciais e financeiros, vêm provocando interesse entre os coreanos. Recentemente, o prefeito de Seul realizou viagem a Curitiba para estudar o modelo urbano na sua interação com o meio ambiente. Especialistas sobre o Brasil escrevem com freqüência nos jornais coreanos, dando ênfase às potencialidades do país sul-americano em áreas como produção de aeronaves, pesquisas em biotecnologia, lançamento de satélite, prospecção de petróleo em águas profundas, entre outras. Com o ingresso da Coréia no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em 2005, que recebeu o apoio do governo brasileiro, o país poderá maximizar o relacionamento bilateral, participando em projetos de infra-estrutura, de cooperação tecnológica e de desenvolvimento social brasileiro.

Os coreanos costumavam referir-se ao Brasil como um parceiro potencial já nos anos 70. Atualmente, assiste-se à manifestação dessa potencialidade, sobretudo na cooperação em C&T, que conjuga as empresas inovadoras de ambos os países.

YOUNG-SUN WOO é pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB).