Título: Perto da eleição, casas por R$ 1
Autor: Aloysio Balbi e Maiá Menezes
Fonte: O Globo, 19/10/2004, O país, p. 3

Campos está ganhando ares de capital oficial do governo do estado. Mais um programa social da gestão Rosinha Matheus desembarcou ontem na cidade. A 13 dias do segundo turno, a Secretaria estadual de Habitação começou a fazer um recadastramento, que se estenderá até o dia 28, para a entrega de casas populares a R$ 1 dentro do programa Morar Feliz. Rosinha despachou para a cidade o secretário estadual de Habitação, Fernando Avelino, para acompanhar o recadastramento, que atraiu milhares de pessoas pobres para grandes filas em diversos pontos de Campos.

Investindo tudo na tentativa de eleger seu candidato, Geraldo Pudim (PMDB), a governadora também levará para Campos parte de seu secretariado, na sexta-feira, para discutir a política de incentivos estaduais para o desenvolvimento da região.

Secretário diz que governo sabia do risco

Os dados colhidos pelo estado às vésperas da eleição serão usados, segundo o secretário Fernando Avelino, até 2006. A governadora planeja, até lá, entregar 33 mil casas populares no estado. Hoje, há dez mil unidades em construção. Há dois meses, uma pesquisa prévia, feita pela Agência de Desenvolvimento Local (ADL) do governo do estado e pela Secretaria de Habitação inscreveu 16.634 pessoas.

Fernando Avelino afirmou que esta segunda fase estava prevista há dois meses e esmiuçará os dados já colhidos na primeira fase. O secretário disse que a orientação da governadora é evitar que o recadastramento seja usado politicamente em Campos.

¿ A gente tem que tomar muito cuidado, nessas épocas de campanha, para não misturar técnica com política. Vim a Campos por instrução da governadora. A gente sabia que ia correr esse risco ¿ disse o secretário, que tentou explicar por que o recadastramento ocorre a 12 dias das eleições:

¿ Por que tem que ser agora? Porque as ações têm que ser feitas em 2005. Em abril de 2006, por causa das eleições, não se pode mais contratar empreiteira alguma. Por isso as pesquisas de mercado, para saber quem serão os beneficiados, precisam ser feitas logo.

O programa Morar Feliz começou no último ano da gestão do presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho. A unidade habitacional custa R$ 1 por mês aos beneficiados. Enquanto pagam as prestações mensais simbólicas, recebem um título precário, emitido em nome da mulher da família. Depois de quitado o valor, o beneficiado recebe a titularidade definitiva. Só concorrem para receber as casas pessoas que recebem até três salários-mínimos. Até agora, pelo programa, foram entregues mil casas populares em todo o estado. As unidades estão sendo construídas em 75 municípios.

O recadastramento foi feito ontem na Escola estadual Manoel Pereira Gonçalves, no Farol de São Tomé. Em Saturnino Braga o cadastramento aconteceu na escola estadual Atilano Chrysóstomo de Oliveira e no Ciep de Goitacazes. Aos interessados, é pedido o número do CPF. Hoje o cadastramento será feito nos distritos de Travessão, Santa Maria e Morro do Coco.Estão previstos até o dia 28 cadastramento ainda no Parque El Dourado, Santa Rosa e Lapa.

O secretário de Habitação informou que o estado tinha disponíveis dados apenas sobre a área central de Campos. O recadastramento avaliaria as necessidades da cidade.

¿ No Rio, não preciso fazer pesquisa nenhuma, porque é excessivo o número de dados. É como na Baixada. Mas não temos informações técnicas sobre Campos e Macaé. Esta não é uma politiqueira, mas sim de política habitacional ¿ disse Avelino. O recadastramento, porém, só está sendo feito na terra natal da governadora.

Garotinho fará campanha paralela em Campos

Ontem à noite, numa reunião com seus aliados em Campos, Garotinho traçou a estratégia para os próximos dias. O ex-secretário de Segurança, que deverá ficar na cidade até o dia da eleição, fará uma agenda paralela à de seu candidato, Geraldo Pudim: sairá às ruas sozinho para pedir votos para o aliado.

O Tribunal de Justiça do Rio decidirá hoje, em reunião da 9 Câmara Cível, se o prefeito de Campos, Arnaldo Vianna, fica no cargo. Na última sexta-feira, ele fora cassado por uma hora e meia por despacho do desembargador Renato Simoni, em virtude de um processo sobre superfaturamento aberto pelo Ministério Público em 2003. Os advogados de Vianna conseguiram suspender a decisão por meio de um agravo regimental. Ontem, a defesa do prefeito pediu a suspeição do desembargador Simoni para decidir sobre o processo.

Segundo o advogado João Batista de Oliveira Filho, na sexta-feira o desembargador informou aos advogados do prefeito que a decisão só seria conhecida na segunda-feira, e que ele iria para casa. No mesmo momento, diz Oliveira Filho, os partidários do vice-prefeito Geraldo Pudim, adversário de Viana e candidato a prefeito, declaravam em Campos que ele assumiria o posto. A assessoria do Tribunal informou que o desembargador não despachou de casa, e que o julgamento do agravo está mantido para hoje, às 13h. Vianna apóia Carlos Campista (PDT), adversário de Pudim e do casal Garotinho.