Título: Nilmário: versão militar causou revolta
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 19/10/2004, O país, p. 13
O ministro Nilmário Miranda, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, divulgou nota ontem afirmando que a versão militar de que Vladimir Herzog havia se suicidado causou revolta e comoção inéditas no país. Nilmário afirmou ainda que o sacrifício do jornalista provocou uma grande onda de repúdio à tortura no Brasil. "Paradoxalmente, a morte brutal do jornalista representou o início do fim de cinco séculos da marcha tenebrosa da tortura no nosso país e, assim, salvou muitas vidas", afirmou Nilmário.
Apesar das críticas do presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, João Luiz Pinaud, à falta de ação do governo, Nilmário disse que a luta contra a tortura é uma política de Estado, que agrega governos, parlamentos, partidos políticos, entidades da sociedade civil.
Nilmário diz ainda que, até o momento, todos os indícios sobre a localização de restos mortais de desaparecidos políticos foram alvo de buscas por parte de sua secretaria. "É dessa maneira que o governo reafirma o compromisso ético e legal com as famílias dos mortos e desaparecidos políticos e com a História do Brasil, sempre norteado pelos princípios de reconciliação e de pacificação nacional".
Pinaud informou que a comissão tem recebido reclamações de parentes de desaparecidos, que cobram mais agilidade no julgamento dos processos. O Grupo Tortura Nunca Mais também pede mais rapidez.
¿ Há uma inquietação, uma queixa quanto à morosidade. Temos que apurar as denúncias, ter condições para isso. Quando o assunto é direitos humanos, não cabe meio termo. Por que não responder com seriedade à sociedade? ¿ disse Pinaud.