Título: PAÍS CONTA COM TRABALHADORES DISCIPLINADOS
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 29/05/2005, Economia, p. 33

Migração na China iguala força de trabalho dos EUA e da Europa

PEQUIM. A vantagem da China está na sua abundante mão-de-obra, admite Li Jiange, vice-ministro do Centro de Pesquisa de Desenvolvimento do Conselho de Estado, espécie de consultor do governo para assuntos econômicos.

"A China é a grande fornecedora de mão-de-obra do mundo porque o país está numa área do globo relativamente estável e oferece uma força de trabalho confiável, dócil e capaz, doutrinada sob a forte disciplina do governo. Além disso, há a oferta abundante do maior movimento migratório do mundo hoje. Estima-se que até 300 milhões de chineses estejam emigrando do campo para as cidades em busca de vidas melhores. Trata-se de toda a força de trabalho dos EUA e da Europa juntos", afirma o jornalista Ted Fishman, da revista "Harper's", no livro "China Inc.".

- O Congresso dos EUA acha mais fácil demonizar o câmbio da China e acusá-la de roubar receitas e empregos americanos do que enfrentar o problema do duplo déficit (comercial e fiscal) do país - diz Kenneth Courtis, vice-presidente do Goldman Sachs Ásia.

BC chinês: valorização do yuan não é para agora

De fato, num artigo publicado no jornal "The New York Times" no último dia 20, o economista Paul Krugman defende a tese de que a esperada valorização do yuan vai desestabilizar mais os EUA do que a situação atual. Segundo ele, a China vem usando a gigantesca quantidade de dólares que entram no país para comprar títulos da dívida americana, o que, por sua vez, ajuda a manter baixos os juros nos EUA, hoje em 3%. A valorização do yuan, a redução das exportações americanas e um freio no nível de investimentos na China (provocados por uma taxa de crescimento da economia menor) teriam consequências desastrosas:

"As taxas de juros dos EUA vão subir; a bolha imobiliária deve estourar; o emprego na construção e os gastos com consumo vão cair; a queda nos preços dos imóveis vai provocar uma onda de falências".

Mas o futuro não deve ser assim tão negro. Ainda que a China tenha autorizado recentemente operações de câmbio no país entre o dólar e outras sete moedas - sem o yuan - a flutuação livre do câmbio é um objetivo de longo prazo.

- A China não pretende fazer mexidas bruscas no yuan enquanto não resolver alguns problemas internos, como a reforma do sistema bancário, por exemplo. Existe uma intenção de aproximar o yuan de um valor de mercado mais realista, talvez refletindo as cotações médias de uma cesta de moedas, mas isso não vai acontecer nem agora, nem subitamente - diz o presidente do Banco Popular da China (o BC chinês), Zhou Xiaochuan. (GSJ)