Título: CHINA: MAIS QUE CÂMBIO, MÃO-DE-OBRA BARATA
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 29/05/2005, Economia, p. 33

Para economistas, salários baixos garantem exportações. Alta de 25% do yuan reduziria importações americanas em 2,5%

PEQUIM. Os representantes comerciais dos Estados Unidos e da União Européia (UE) - e até o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio do Brasil - bradaram, nas últimas semanas, não apenas contra os tecidos e roupas com os quais a China tem inundado o planeta. Também entrou no rol de queixas o câmbio artificialmente desvalorizado do país. Um dólar vale 8,28 yuans há mais de dez anos, apesar dos US$562,1 bilhões (quase o PIB do Brasil) em investimentos diretos estrangeiros recebidos pelo país somente em 2004.

Pela lógica dos EUA e da UE, o yuan desvalorizado e fixo seria um mecanismo desleal para tornar os produtos chineses mais competitivos, enquanto a maioria dos sistemas de câmbio mundiais deixa as moedas flutuarem livremente.

Esta é a opinião dos governos e políticos americanos e europeus. Para os economistas, a agressiva máquina exportadora chinesa tem uma vantagem competitiva que torna uma valorização do yuan em relação ao dólar pouco eficiente para combater o déficit comercial dos EUA e da UE com a China: os baixos salários pagos aos trabalhadores chineses.

- Uma valorização de 25% do yuan ia provocar uma queda de apenas 2,5% nas importações americanas de produtos chineses. O governo e o Congresso dos EUA e da UE estão olhando para o problema errado. A vantagem competitiva da China é a imensa quantidade de mão-de-obra barata - diz Stuart Gulliver, diretor de Investimentos e Mercados do HSBC.

Em seu livro "China Inc.", o jornalista Ted Fishman, da revista "Harper's", diz que um trabalhador no setor de roupas nos EUA recebe US$9,56 a hora, mais ou menos o mesmo que na Europa. Em El Salvador, este valor cai para US$1,65. Na China, o custo da mão-de-obra fica entre US$0,68 e US$0,88.

- Os salários nos EUA são cerca de 30 vezes maiores que os pagos na China, em média. Como pode, então, uma valorização do yuan trazer de volta os empregos perdidos para países mais competitivos? - pergunta Andy Xie, diretor do Morgan Stanley Ásia.