Título: Corpo-a-Corpo: Paulo Godoy
Autor: Mirelle de França
Fonte: O Globo, 31/05/2005, Especial, p. 3

O Brasil corre o risco de ter seu crescimento freado se não investir US$ 20 bilhões ao ano em infra-estrutura até 2015, alerta o presidente da Abdib. Para ele, em energia elétrica, o modelo ideal é o das concessões.

Qual é o investimento necessário para resolver os problemas de infra-estrutura do país?

PAULO GODOY: Seriam necessários US$ 20 bilhões anuais, ao longo de dez anos, para evitar que os gargalos atuais tornem-se uma barreira ao crescimento nos níveis necessários, em torno de 4,5% ao ano.

Quais são as principais apreensões sobre as PPPs?

GODOY: Os empresários estão preocupados com o tempo excessivo que o Comitê Gestor das PPPs tem levado para divulgar as regras de funcionamento do Fundo Garantidor.

Quais são os setores com quadro mais crítico?

GODOY: Transportes e saneamento. Mas os investimentos nos outros setores também têm de ser maciços e contínuos. Por ano, são necessários em transportes US$ 2,8 bilhões; em saneamento, US$ 3 bilhões; em energia elétrica, US$ 5,5 bilhões; em petróleo e gás, US$ 6,7 bilhões; e em telecomunicações, US$ 2 bilhões.

No setor de transportes, como deveria ficar a distribuição?

GODOY: Por ano, são necessários em ferrovias US$ 400 milhões; em rodovias, US$ 1,6 bilhão; em portos, US$ 300 milhões e em transporte urbano eletrificado, US$ 500 milhões.

O que acontecerá se esses investimentos não forem feitos?

GODOY: Se não forem criadas condições para garantir a expansão e a melhoria do setor de transportes, as empresas poderão ficar diante de uma situação bastante crítica e embaraçosa: vender, mas não conseguir entregar.

Qual o potencial das PPPs para amenizar os problemas no setor de transporte?

GODOY: As parcerias serão uma possibilidade de eliminar gargalos. O setor precisa de uma fonte fixa de recursos e a Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico (Cide), criada para suprir parte dos investimentos necessários, não tem trazido os resultados esperados. Dos R$ 22,4 bilhões arrecadados desde 2002, R$ 4,2 bilhões ficaram estacionados no Tesouro.

Que empresas estão mostrando interesse nas PPPs?

GODOY: Há concessionárias privadas de serviços públicos e companhias dos setores de alimentos e do agronegócio atentas ao desenvolvimento de projetos de logística via PPP. Siderúrgicas e mineradoras também.

As PPPs têm potencial para acabar com os gargalos ou a situação pode continuar crítica?

GODOY: As PPPs têm potencial para desafogar o setor, mas não em todas as áreas. Em energia elétrica, por exemplo, o modelo ideal é o das concessões.