Título: HOMICÍDIO DOLOSO TRIPLICOU DE 1980 A 2003
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 01/06/2005, O País, p. 3

Assassinatos foram a principal causa de mortes entre homens de 15 a 39 anos

BRASÍLIA. A taxa de homicídios dolosos (intencionais) quase triplicou no Brasil nas últimas duas décadas. Entre 1980 e 2003, a taxa saltou de 11,4 vítimas por grupo de cem mil habitantes para 29,1. Em 2003, o Rio de Janeiro era, ao lado de Pernambuco, o estado com a maior taxa: 54,7. Em terceiro lugar, aparecia o Espírito Santo, com 50,5.

O Radar Social 2005 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que a cidade do Rio de Janeiro e sua Região Metropolitana tinham a terceira pior taxa na comparação com as demais capitais: 62,6%, atrás apenas de Vitória (ES), com 78,2, e de Recife (PE), com 76,7.

O estudo aponta a facilidade de acesso a armas de fogo como um dos três principais fatores responsáveis pelo aumento da taxa de homicídios. Por isso, defende a campanha de desarmamento lançada pelo Ministério da Justiça como forma de desarmar a população e evitar que conflitos banais, como brigas de trânsito e discussões de bar, acabem em morte. Os outros dois fatores citados são o crescimento do crime organizado e a impunidade.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, os assassinatos foram, em 2003, a principal causa de mortes entre homens na faixa de 15 a 39 anos. Nesse mesmo ano, 66% dos homicídios no Brasil - dois em cada três - foram provocados por arma de fogo.

Numa comparação das taxas de homicídio em 15 países, o Brasil aparece em quarto lugar, com 23,4 por grupo de cem mil habitantes. O dado relativo ao Brasil nessa comparação é de 2002 e o dos demais países varia entre 2000 e 2002.

Em primeiro lugar, está a África do Sul (114,8), seguida pela Colômbia (70) e a Venezuela (33,2). No mês passado, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) divulgou balanço com outros 54 países. No levantamento da Unesco, o Brasil aparece em segundo lugar, atrás da Venezuela.

Estudo diz que só a pobreza não é causa do aumento de crimes

O Radar Social refuta a idéia de que a pobreza por si só seja a causa do maior número de assassinatos. "Os números mostram, no entanto, que a maioria absoluta das pessoas pobres não está envolvida com a criminalidade", diz o texto."E mais: que também os ricos praticam vários crimes (violentos ou não, como a sonegação de impostos). Isso não quer dizer que as carências sociais não aumentem a atratividade das soluções imediatas e ilegais, sobretudo para os jovens."

O estudo conclui que o primeiro desafio do Brasil na área de segurança é reduzir o número de homicídios, mas cita também a necessidade de combater o crime organizado, com ênfase no tráfico de drogas e armas, e enfrentar o que chama de "crise do sistema de Justiça criminal". "Uma vez que (os homicídios) são causados principalmente por armas de fogo, um passo importante é o desarmamento da população", diz o documento.

O Radar Social 2005 mostra que a renda média do trabalhador brasileiro caiu 15% entre 1996 e 2003. Pior: em 2003, o desemprego no país estava acima da média mundial e mesmo da América Latina. De acordo com dados a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a taxa internacional de desemprego era de 6,2%, menor, porém, do que os 8% da América Latina. O Brasil, segundo o IBGE, ostentava 10%. "No período de 1993 a 2003, a única região que registra um aumento do desemprego superior ao brasileiro é o Sudeste Asiático", diz o texto.