Título: Analistas prevêem alta dos juros para 16,5%
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 19/10/2004, Economia, p. 25

Às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ¿ que começa hoje e termina amanhã ¿ a expectativa em torno de um novo aumento na taxa básica de juros (Selic) ajudou a reduzir os negócios no mercado financeiro brasileiro. As apostas dos analistas são de um aumento de 0,25 ponto percentual (para 16,5% ao ano), principalmente devido à forte alta dos preços do petróleo desde a última reunião. Com isso, dólar, risco-país, bolsa e títulos da dívida pouco oscilaram durante o dia.

Para Felipe Illanes, estrategista-sênior de Renda Fixa para mercados emergentes da Merrill Lynch, embora os números de inflação divulgados desde a última reunião tenham ficado abaixo das expectativas do mercado, o preço do barril de petróleo em Nova York subiu de US$ 43,7 para cerca de US$ 54.

Em relatório distribuído a clientes, Illanes explica que o crescimento robusto da economia e as preocupações com a trajetória das expectativas de inflação futura devem levar o Copom à decisão unânime de elevar os juros em 0,25 ponto.

CSFB prevê que taxa Selic atinja 17% em dezembro

Para o economista Nilson Teixeira, do Credit Suisse First Boston, o BC deve seguir o ciclo de aperto monetário em doses homeopáticas até o fim do ano ¿ 0,25 ponto em cada reunião, até atingir 17% ao ano. Para ele, ¿os riscos de que as expectativas de inflação para 2005 permaneçam bem acima dos 5,1% almejados pelo Banco Central justificam a manutenção do ciclo de aperto monetário nos próximos meses¿.

O economista Alexandre Póvoa, da Modal Asset Management, também vê claros riscos de inflação em 2005. Ele acredita que, a médio prazo, é muito elevada a chance de transmissão da forte variação de preços ao atacado para o varejo. Por isso, sugere uma elevação de 0,5 ponto percentual nesta reunião. Ele lembra que, na última ata, o BC deixou claro que seria menos tolerante com qualquer tipo de choque que pudesse desviar a inflação (IPCA) de 2005 da nova meta ¿ que subiu de 4,5% ao ano para 5,1% ao ano no mês passado.

¿ Será que uma alta de mais de 20% no preço do petróleo não deve ser considerado um choque inesperado? E existe ainda uma dúvida enorme sobre a capacidade da oferta em responder ao aumento de demanda, ampliando os riscos inflacionários ¿ explica Póvoa.

Apesar disso, o analista antecipa que o BC pode optar por subir os juros em apenas 0,25 ponto percentual, uma decisão que, a exemplo da última reunião (com votação apertada de cinco diretores a favor e três contra), não deve ser unânime.

Falta de consenso do Copom pode alimentar especulações

Para ele, se a divisão entre os membros do Copom continuar, devem crescer as especulações sobre o racha da ala técnica e da ala menos técnica do BC, ¿com a repetição perigosa de uma vitória do segundo grupo¿.

Ontem, especulações sobre o Copom e as cotações do petróleo ditaram o rumo dos negócios no mercado financeiro brasileiro. O preço do barril em Nova York bateu o recorde de US$ 55,33 pela manhã, mas fechou em queda, aos US$ 53,67.

¿ A cotação oscilou cerca de 3% só ontem. Tamanha volatilidade impõe um freio aos negócios à medida que alimenta temores de repasse de preços que possam levar a um menor crescimento global ¿ diz Alexandre Horstman, diretor de gestão da Meta Asset.

O dólar fechou cotado a R$ 2,859 (0,07%) e o risco-Brasil avançou 0,22%, para 465 pontos centesimais. O C-Bond caiu 0,12%, para 99% do valor de face e a Bolsa teve leve alta (0,18%), em um dia de vencimento de opções. O volume financeiro foi de R$ 1,76 bilhão ¿ destes, R$ 550,6 milhões referentes ao vencimento.