Título: DESENCONTROS ENTRE IBGE E ANATEL
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 01/06/2005, Economia, p. 19

PIB poderá ser revisado mais uma vez, se agência enviar novos números

RIO e BRASÍLIA. Os desencontros entre o IBGE e a Anatel lançam dúvidas sobre o real desempenho da economia brasileira em 2004. Até ontem à noite, ninguém informava se os dados sobre telefonia móvel enviados pela agência reguladora ao instituto em maio - e que levaram à redução de 0,3 ponto percentual no PIB do ano passado - estavam certos ou errados.

Depois de a Anatel levar mais de seis horas para informar, por meio da assessoria de imprensa, que não havia revisado os dados, porque não os havia recebido, um técnico reconheceu, no início da noite, que os dados preliminares da receita de 2004 das operadoras foram enviados ao IBGE, sem os números da Vivo. Trata-se simplesmente da maior operadora da telefonia móvel, que detém 40% do mercado.

Normalmente, as operadoras encaminham os dados para a agência em março, quando são divulgado os balanços do ano anterior. Mas até agora, a empresa não enviou os números da receita do ano passado para a Anatel. A assessoria da Vivo não confirma e nem nega a informação da Anatel.

Houve uma estranheza do setor em relação à queda do PIB porque, em 2004, o número de celulares no país aumentou fortemente. Embora a receita por terminal tenha caído, é difícil que, no todo, a receita do setor sofra uma redução tão grande.

O IBGE, por sua vez, garante que a revisão está correta. Desde 2003, a Anatel envia trimestralmente as informações sobre a receita operacional líquida das empresas da telefonia móvel. Foi assim até maio deste ano, quando o instituto recebeu por e-mail as informações revistas sobre 2004.

Como os dados eram muito diferentes dos números iniciais, o IBGE decidiu rever imediatamente o PIB. Seus técnicos teriam, inclusive, alertado à Anatel sobre a magnitude da correção. O IBGE afirma que as novas contas do PIB estão corretas, a menos que a Anatel encaminhe outros dados.

Os cálculos foram usados também como base das projeções do primeiro trimestre deste ano, porque a Anatel não enviou informações sobre 2005. Assim, qualquer mudança pode influenciar tanto os números de 2004 quanto os de 2005. Ou seja, os 5,2% que se transformaram em 4,9% podem virar um outro número, bem como todas as taxas de janeiro a março. Segundo a Anatel, técnicos da agência e do IBGE se reúnem ainda hoje, em Brasília, em horário ainda não informado, para tratar do assunto.