Título: Luz amarela no crescimento
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 01/06/2005, Economia, p. 19

PIB cresceu só 0,3% no primeiro trimestre. Indústria, serviços e consumo encolheram

A economia brasileira cresceu só 0,3% nos três primeiros meses deste ano, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Houve retração na indústria, no segmento de serviços, no consumo das famílias e nos investimentos, num reflexo, segundo os economistas, da alta de juros iniciada pelo Banco Central em setembro do ano passado. Apenas o setor agropecuário, pelo lado da oferta, e as exportações e importações, pelo lado da demanda, tiveram desempenho positivo na comparação com o último trimestre do ano passado.

O resultado do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) frustrou a expectativa dos analistas, principalmente porque veio acompanhado de uma revisão para baixo no crescimento da economia em 2004. A expansão do PIB, antes calculada em 5,2% no ano passado, agora foi revista para 4,9%. Ou seja, não apenas o crescimento no primeiro trimestre ficou aquém das expectativas - os analistas do mercado projetavam alta de 0,5% - como também ocorreu sobre uma base mais fraca do que a inicialmente informada pelo IBGE.

Juros afetam mais investimentos

Na comparação com o primeiro trimestre de 2004, o PIB brasileiro cresceu 2,9%, num ritmo bem mais lento do que os 4,9% do fim do ano passado. Todos os setores da economia perderam fôlego e chamou a atenção do IBGE a forte desaceleração nos investimentos. A chamada formação bruta de capital fixo - que inclui a produção de máquinas e equipamentos, além da construção civil, ou seja, todos os investimentos realizados para ampliar a capacidade produtiva da economia - teve alta de só 2,3%, abaixo do crescimento do PIB e bem inferior ao que vinha sendo registrado nos trimestres anteriores. Entre abril e dezembro de 2004, os investimentos cresceram a uma taxa média de 14% por trimestre.

- A diferença é muito grande, houve uma forte desaceleração neste setor - afirmou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, destacando que a construção civil foi a maior responsável pelo freio nos investimentos. - As taxas de juros, em algum momento, têm efeito.

A construção civil teve alta de apenas 0,6% na comparação com o primeiro trimestre de 2004, num desempenho bem inferior à taxa média trimestral de 7,9% registrada entre abril e dezembro do ano passado. Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais, explicou que este setor é muito influenciado pelas condições de crédito e de renda da economia. A forte expansão do financiamento consignado nos últimos meses foi usada para a aquisição de bens de consumo, sem grande impacto na construção civil. Ele acrescentou que, no caso dos demais investimentos, muitos projetos podem estar sendo postergados:

- Com esses juros, no mínimo a decisão de investimento é adiada.

Se os juros por um lado deram um golpe nos investimentos, por outro lado tiveram um efeito mais moderado em conter o consumo. Os gastos das famílias tiveram alta de 3,1% no primeiro trimestre deste ano, apenas um pouco abaixo dos 4,9% de média trimestral entre abril e dezembro do ano passado.

O economista Rafael Barroso, da UFRJ, explica que, num primeiro momento, a redução de investimentos é um dos objetivos da alta de juros. Um freio na compra de máquinas e equipamentos reduz a demanda da economia, ajudando a conter a inflação. Mas, a longo prazo, caso o consumo continue crescendo a um ritmo mais acelerado do que os investimentos, podem surgir restrições de oferta (ou seja, incapacidade da indústria de atender a demanda por consumo) o que criaria uma pressão inflacionária.

O freio no consumo das famílias está sendo, em parte, compensado pelo vigor das exportações que continuam crescendo acima das importações. Na comparação com o último trimestre de 2004, na série com ajuste sazonal, as compras do exterior cresceram 2,3%, contra 3,5% das nossas vendas para fora. Com isso, a demanda externa sustentou o crescimento da economia. Mas em relatório distribuído ontem, o Bradesco afirma que, com a recente valorização do real, essa contribuição positiva do setor externo para o PIB pode não se repetir nos próximos trimestres.

Pelo lado da oferta, a agropecuária foi o único setor com desempenho positivo frente ao último trimestre de 2004, com alta de 2,6%. Apesar da quebra de safra no Brasil, a produção agrícola ainda mostra um desempenho superior neste início ao dos primeiros meses de 2004.

SETOR DE COMUNICAÇÕES CAI 3,2% NO TRIMESTRE, na página 20

inclui quadro: os números do desaquecimento