Título: IPEA: PAÍS CRESCERÁ MENOS DE 3,5%
Autor: Luciana Rodrigues, Monica Tavares e Erica Ribeiro
Fonte: O Globo, 01/06/2005, Economia, p. 20

Economistas revêem previsões. Empresários engavetam investimentos

RIO e SÃO PAULO. Os resultados da economia no primeiro trimestre provocaram, ontem mesmo, uma onda de revisão nas estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) anunciou que vai recalcular suas projeções. O diretor de Estudos Macroeconômicos, Paulo Levy, disse que "será muito difícil cumprir a previsão de crescimento de 3,5%", com a qual o Ipea trabalhava desde março.

O Unibanco reduziu de 3,7% para 3% sua estimativa para 2003. Em nota divulgada ontem à tarde, a instituição assinala que a nova conta tem como premissa a interrupção "em breve" do aperto monetário do Banco Central. A consultoria GRC Visão foi outra que reduziu de 3,5% para 3% sua estimativa para o PIB.

Já o economista Samuel Pessôa, da Fundação Getúlio Vargas (EPGE-FGV), sequer acredita que a economia será capaz de avançar 3%. Afinal, diz, em relação ao primeiro trimestre de 2004, o de pior desempenho no ano passado, o PIB só foi capaz de crescer 2,9%:

- Como nos demais trimestres, as bases são maiores, será muito difícil que a economia alcance os 3% este ano.

A retração no investimento e no setor de construção frustrou particularmente o setor produtivo. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Brinquedos (Abrinq), Synésio Batista, conta que seis fabricantes nacionais decidiram postergar projetos de modernização e aumento de produtividade por causa dos juros altos e do câmbio. Os projetos, que juntos envolveriam investimentos de US$18 milhões, estariam concluídos no fim deste ano. Agora, as empresas tiraram trabalham com um horizonte de até 48 meses para finalizá-los.

Um grande fabricante nacional de eletroeletrônicos pôs na gaveta no início deste ano o projeto de uma nova fábrica de celulares. Motivos: a alta dos juros e a conseqüente derrocada do dólar. O projeto, que já deveria estar concluído, envolvia investimentos de US$45 milhões e iria gerar 600 empregos diretos na Zona Franca de Manaus.

- Decidimos não pôr tanto dinheiro em obras e máquinas, diante de condições de mercado tão desfavoráveis - conta um executivo da empresa.

O presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon), Luiz Fernando dos Santos Reis, diz que o setor quase completamente parado desde o início do ano, com a interrupção dos projetos de infra-estrutura e até mesmo de conservação das estradas pelo governo federal. A situação só não é pior, afirma, porque há empresas dos setores de mineração, siderurgia e papel e celulose investindo em ampliação ou construção de novas unidades:

- Estamos em junho e nada aconteceu. Mesmo se começarem a licitar agora, será difícil iniciar uma obra este ano.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton Mello, afirma que, mais do que os juros, a atual taxa de câmbio é o principal inibidor dos investimentos. Sem perspectiva de manter exportações competitivas, as indústrias têm adiado projetos de ampliação ou instalação de novas fábricas. Pelo menos quatro segmentos produtores de máquinas e equipamentos já registram queda no faturamento este ano.

inclui quadro: o desempenho dos emergentes