Título: Setor de comunicações cai 3,2% no trimestre, o pior desempenho do PIB
Autor: Luciana Rodrigues, Monica Tavares e Erica Ribeiro
Fonte: O Globo, 01/06/2005, Economia, p. 20

Telefonia perdeu em todos os serviços fixos. Novas tecnologias influenciam

RIO e BRASÍLIA. Entre os setores da economia, as comunicações tiveram o pior desempenho no Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deste ano, com uma queda de 3,2% na comparação com o mesmo período do ano passado. A telefonia, que responde por 90% do setor - o restante é a atividade dos Correios - amargou perdas em todos os serviços fixos. Mas, assim como no PIB revisado de 2004, poderia haver dúvidas, já que há confusão sobre informações enviadas pela Agência Nacional de Telecomunicações ao IBGE em maio deste ano.

Segundo os dados do PIB, o volume de minutos interurbanos recuou 18% e o de internacionais, 4%. Os pulsos tiveram queda de 1%. A telefonia móvel teve um desempenho positivo, com alta de 11%, mas representa apenas 35% da geração de riquezas no setor.

- O setor de comunicações, em anos anteriores, crescia muito, em taxas bem acima do PIB. Mas, neste trimestre, foi o único com desempenho negativo - explicou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE.

O mercado de telefonia fixa atribui a queda no volume de ligações interurbanas à mudança ocorrida em meados de 2004, quando chamadas entre determinados municípios que antes eram classificadas de interurbanas passaram a ser consideradas locais.

Essa mudança ocasionou uma redução de 17% nas ligações interurbanas nacionais, entre o primeiro trimestre de 2004 e o primeiro trimestre de 2005, segundo dados usados pelo mercado. Somente na Telemar a redução no período foi de 16%. Já nas ligações internacionais a telefonia fixa registrou queda de 11%. Sem o efeito da mudança ocorrida na tarifação, o setor teria uma queda de 4% nas ligações interurbanas nacionais e os mesmos 11% nas internacionais, diz o mercado. Por outro lado, a alteração na forma de tarifação não causou aumento do número de pulsos locais, como mostrou o IBGE.

Para o secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Paulo Lustosa, "novos componentes tecnológicos" contribuem para reduzir o valor da receita do setor. Segundo o secretário, há muita gente usando VoIP (voz sobre protocolo de internet), tecnologia que permite ao consumidor fazer chamadas pelo computador, e não usando telefones convencionais.

Na VoIP, que utiliza a internet banda larga, é possível falar para outra cidade ou outro país pagando apenas ligações locais. O serviço vem atraindo sobretudo consumidores corporativos.

Segundo Lustosa, também é cedo para fazer uma análise consistente dos números do setor de telecomunicações divulgados pelo IBGE, porque eles poderiam ser apenas sazonais.

- Acho que não é uma tendência para o ano, mas temos que discutir os dados - afirmou Paulo Lustosa.

O secretário-executivo disse que a indústria teve um recuo de um ponto percentual no trimestre e cada vez que a atividade econômica recua há reflexos nas telecomunicações.

ERROS , VELHOS ERROS

Erros do IBGE e da Anatel já fizeram os números do PIB serem revisados. Em 2001, os dados do segundo trimestre do ano foram retificados, de uma queda de 0,99% para um crescimento de 0,02%.

Na ocasião, a alteração da taxa foi motivada principalmente por duplo erro no indicador do setor de comunicações. De um lado, a Anatel descobriu que repassara dados errados sobre a quantidade de chamadas interurbanas desde 1998, o que também levou à revisão dos PIBs de 1999 e 2000. De outro, o IBGE admitiu que errou na contabilização desses dados no segundo trimestre de 2001. Os erros no cálculo levaram o PIB do setor de comunicações a passar de queda de 11% para alta de 13% sobre o mesmo trimestre de 2000.