Título: Queda no consumo das famílias preocupa Lula
Autor: Luiza Damé e Martha Beck
Fonte: O Globo, 01/06/2005, Economia, p. 23

Secretário procura transformar desconcerto em explicação técnica: a forte desaceleração não vai continuar

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva analisou os dados do Produto Interno Bruto (PIB) na manhã de ontem com os ministros José Dirceu, da Casa Civil; Antonio Palocci, da Fazenda; e Paulo Bernardo, do Planejamento, e manifestou sua preocupação com o recuo registrado no consumo das famílias. O ritmo da expansão da economia foi considerado menor do que o esperado.

À tarde, coube ao secretário de Política Econômica da Fazenda, Bernard Appy, transformar o desconcerto em explicação técnica: a forte desaceleração dos investimentos e do consumo não vai continuar, o que justifica a manutenção da previsão oficial de alta de 4% do PIB em 2005.

- A queda do consumo das famílias é um dado relevante que precisa ser examinado - afirmou o ministro Paulo Bernardo, que já solicitou estudo da área técnica do Planejamento e do Ipea.

O ministro reconheceu que o crescimento do PIB está abaixo do esperado, mas argumentou que ano passado, nesta época, os indicadores também mostravam desaceleração da economia, e que o segundo semestre costuma ter um desempenho melhor:

- A impressão que tivemos é de que há uma acomodação. De qualquer maneira, tivemos o oitavo trimestre consecutivo de crescimento. Com certeza, está um pouco abaixo. Não temos que ficar excessivamente preocupados, mas monitorando.

O discurso estava afinado com o de Appy. O secretário afirmou que o resultado do primeiro trimestre não afeta o crescimento a longo prazo. Ele reconheceu que a política monetária foi uma das responsáveis pela desaceleração e pela redução no consumo das famílias, mas disse que ela permitirá expansão mais acelerada nos próximos meses.

- Parte da desaceleração é reflexo da política monetária. Em compensação, essa política garante estabilidade dos preços de longo prazo e a preservação da renda, o que cria condições para crescimento mais acelerado nos próximos trimestres - disse Appy.

Appy diz que crescimento da renda foi de 6% em 12 meses

Segundo o secretário, está mantida a perspectiva de aumento dos investimentos. A queda de 3% no indicador, defendeu, foi resultado de fatores pontuais, como a quebra de safra agrícola (que reduziu os gastos de produtores com equipamentos e implementos) e a redução da atividade na construção civil, que se beneficiaria de medidas para estimular o crédito imobiliário, o que terá efeitos positivos sobre os investimentos no futuro.

- A perspectiva é de retomada com estabilidade e crescimento - afirmou ele.

Appy argumentou ainda que, embora tenha caído o consumo, a renda da população não está recuando. Ele destacou que, nos últimos 12 meses, o crescimento da massa real de renda das famílias brasileiras foi de 6%.

- Nossa perspectiva é que o consumo seja retomado no segundo trimestre - disse.

Legenda da foto: LULA DURANTE o encontro com o presidente da Abdib, Paulo Godoy: preocupação com o consumo registrado pelo PIB no primeiro trimestre